Os 20 valores que não compram a felicidade

O meu menino vai ser doutor!

Não importa a que custo. Tem de ser doutor como o avô e o pai para ser alguém na vida.” Quando temos um filho desejamos-lhe o melhor, claro está. Falamos de um amor maior e nem nos apercebemos que, ao gerarmos uma vida não somos promovidos à categoria de donos e senhores.

Devemos cuidar e amar, mas não formatar. As normalizações que tentamos impor em prol de uma vida boa, estão no código genético de uma educação distorcida. Está tudo certo até aqui. O que já não me parece correto é não aceitarmos que temos liberdade. A liberdade de pensar, de mudar, de fazer acontecer. O amor é tudo e, no entanto, pode destruir!

Dinheiro, estatuto, títulos e poder. Palavras que aprendemos e que se entranham nas atitudes e nos propósitos. O desnorte profissional traz desmotivação e infelicidade, todos sabemos, mas ainda assim mantemos os padrões que um dia nos foram impostos.

Não pensei sempre assim e talvez o que hoje aqui escrevo seja resultado de muitas metamorfoses. Metamorfoses feitas de vida. Porque a mudança corre-me nas veias.

Cresci entre paredes de betão. Fiz-me gente, à boleia de ensinamentos pré-concebidos. Serás como eu quero que sejas e, no entanto… Acredito que temos um propósito de vida e que a sabedoria está, onde estiver o inconformismo.

Esta sociedade que olha uns e outros de maneira distinta tem de ser desconstruída. Não, não aceito que um doutor qualquer coisa seja gente mais importante, só porque lhe foi dado um título.

Somos muito mais. Somos um todo. Atores em causa própria. E temos muitas funções, tantas que nem nos damos atenção.

O direito à Educação está previsto na Constituição Portuguesa, mas isso não dá legitimidade a qualquer sociedade de nos encaixar em padrões.

Sabemos que somos todos diferentes por natureza e é essa diferença que nos salvaguarda a genuinidade. E no entanto, impõem-nos a lei da igualdade.

O que fazem à nossa personalidade quando nos obrigam a seguir modelos de ensino e educação?

Nascemos únicos, mas querem-nos massificados e formatados quais, peças de Tetris.

Anda criança

Criança nasce

Anda criança, criança cresce

cresce que cresce e já vai cansada

Sai de casa

de madrugada

vai para a escola

ser formatada

Criança, nasce

Criança cresce

Anda criança, criança cresce

cresce que cresce e já vai cansada…

Muitos dos nossos miúdos estão completamente entupidos em atividades sem fim que lhes esgotam a agenda e o tempo de ser criança. Uma corrida de fundo com uma única meta:  o quadro de honra.

O meu menino vai ser o melhor!

Que se lixe se esta competição desenfreada, provoca ansiedade e angústia nas crianças. Como se tirar 20 valores fosse passaporte para a excelência profissional. Não está provada qualquer relação direta entre estas duas variáveis e os filhos não têm de ser transformados em troféus para serem exibidos em jantares de amigos.

Defendo que ensino convencional está ultrapassado. Uma máquina pesada que demora a reagir.

O mercado de trabalho e a vida empresarial não esperam. As necessidades de colaboradores especializados aumentam todos os dias e as escolas não conseguem dar resposta. Aqui entra e muito bem, a Formação Profissional. Conteúdos programáticos que surgem numa clara resposta à carência de profissionais em muitas áreas técnicas. Um ensino com uma enorme elasticidade, que procura proactivamente antecipar-se. Com períodos letivos mais curtos, com cargas horarias adaptadas ao ritmo de cada formando, através de regimes diversificados, como por exemplo o E-Learning, o B-Learning e o Presencial. As horas de estudos são geridas pelos alunos, o que acrescenta grande liberdade e permite que mais pessoas tenham acesso a formação, apesar das suas limitações temporais.

Tem-se vindo a recuperar a ideia base da velhinha Escola Técnica e ainda bem.

Não precisamos de ser todos doutores para sermos bons profissionais. Muito menos precisamos ser doutores para ter bons ordenados.

Os miúdos não têm de carregar este estigma. É sempre tarde demais para quebrar paradigmas que enviesam a vida dos nossos jovens.

Precisamos de bons técnicos e o mercado está disposto a pagar simpáticos salários a estes profissionais. Acredito que esta será chave para se ganhar bom dinheiro.

A Web permite atualmente, mais do que nunca, auferir rendimentos muito interessantes e também aqui um curso superior não é de todo requisito obrigatório.

Acredito que o ensino convencional deveria sofrer uma acentuada reforma. Cada vez mais se destaca a necessidade de valores, falo-vos do lado mais humano de cada aluno. As soft skills são consideradas filão de ouro para muitas empresas que buscam colaboradores.

Acredito também que o ensino deve ser adaptado ao individuo, valorizando as suas caraterísticas, únicas e intransmissíveis.

O ensino deveria servir para potenciar a liberdade de pensamento.

Quais os sonhos de cada criança?

Quais os seus talentos e vocações?

Talvez seja por aqui o caminho. Talvez seja importante interiorizar que é muita mais importante termos um adulto feliz e realizado, do que um doutor acorrentado a uma profissão que o deixa infeliz.

Poder fazer o que verdadeiramente nos apaixona em cada dia e com isso conseguir gerar rendimento suficiente para uma vida descontraída deveria ser o objetivo de todos.

E nunca é tarde para por este plano em marcha. Todos os caminhos estão sempre disponíveis e se a meio da viagem percebermos que aquela paisagem não nos agrada então que se mude de rota. O importante é ter sempre a felicidade como meta.

A sociedade ainda vê a mudança académica e profissional com olho desconfiado, mas nem por um segundo nos devemos amedrontar por julgamento infundados.

Importante salientar que cada decisão que tomamos, ou que tomam por nós, não é A DECISÃO, é só mais uma decisão. Que se relativize, pois, o medo de alterar as coordenadas a meio da viagem.

A contabilista que se apaixona por cosmética natural e monta um negócio de sabões artesanais. O engenheiro informático que tira uma mestrado em filosofia, a gestora financeira que se torna professora de yoga, o casal de professores que vende a casa na capital e vai para o Alentejo dedicar-se ao cultivo da vinha, a diretora de marketing que abre um espaço de comida saudável, todos são bem vindos. Direi mesmo, muito bem-vindos. A sociedade precisa de ar fresco de gente que não se conforma. De gente que não para de buscar o seu ideal de vida. De aprender.

Ser doutor e tirar boas notas, deve ser coisa desejada e não imposta, só assim faz sentido.

Que se acabem as dinastias ‘genéticas’, de advogados e médicos, tão em voga em muitas famílias.

Vamos ensinar os nossos pequeninos a seguir sonhos em vez de quadros de honra.

Vamos ser adultos inconformados.

E assim acredito que seja possível ter profissionais bem-dispostos, produtivos, realizados e valorizados em termos salariais.

Não será fácil, bem sei, mas ter esta consciência já é um bom ponto de partida e afinal todos os dias são bons para começar a caminhada rumo à felicidade!

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