Estamos no Upper West Side, num edifício icónico, e tudo começa com a típica frase “It’s not what you think”. E a realidade é que não é mesmo!
Only Murders in the Building é uma série da Hulu e disponível na Disney +, com dez episódios, que começa a prender os espectadores graças aos seus improváveis protagonistas Charles (Steve Martin), que em tempos foi um ator numa série policial de sucesso e que nunca mais teve um hit e Oliver (John Hoffman), um produtor da Broadway falido pelos seus próprios sonhos de grandiosidade ambos nos seus 70 anos de idade, são acompanhados pela juventude de Mabel (Selena Gomez), que vive no apartamento da sua tia enquanto está responsável pela sua decoração.
Agora, como é que estes três acabam juntos? Essa é uma questão que vai perdendo importância ao longo dos episódios, porque a sua dinâmica funciona tão bem, que já ninguém estranha. Charles é ponderação e risco, Oliver é criatividade e energia, Mabel é juventude e mistério. E nunca se adivinha que este estilo irreverente e de sitcom não admitida poderia funcionar tão bem. E eu confesso, séries de comédia não são as minhas favoritas, mas juntem-lhe um homicídio e a curiosidade levou a melhor e fiquei rendida desde o primeiro episódio.
Os três protagonistas moram todos no mesmo prédio, o Arconia, e têm apenas uma coisa em comum, são aficionados de podcasts de crimes reais e todos eles se preparam para assistir ao seu favorito quando no momento da grande revelação, o alarme de incêndio toca e todos têm de ser evacuados. Estes três acabam num restaurante do outro lado da rua, com apenas uma mesa livre, a descobrir os pormenores do crime real analisado e a discuti-los entre eles. Mal eles sabendo que no seu prédio, acabou de acontecer um crime. Mas seria um crime ou um suicídio como a polícia acredita?
Pois bem, as nossas personagens não vão desistir enquanto não descobrirem e através de uma investigação amadora e de um quadro branco criam o seu próprio podcast. É verdade que cometem alguns crimes pelo meio de tudo isto? Sim, mas nada de mais grave do que entrar em propriedade privada – leia-se, nos apartamentos dos seus vizinhos – e talvez a profanação do cadáver de uma gata. Mas nem tudo se centra em Charles, Oliver e Mabel e a série ganha com episódios quase mudos, graças ao filho adulto surdo de Teddy Dimas (Nathan Lane) e com uma história paralela de uma personagem injustamente presa durante 10 anos. E estes três detetives amadores deparam-se com respostas a perguntas que não sabiam ter, sobre crimes que vão encontrando enquanto averiguam a morte de Tim Kono (Julian Cihi).
Há dilemas, há falência, há dívidas, há adolescentes aborrecidos, há crime organizado – ou uma tentativa de crime organizado –, mas também há amizade incondicional. E há humor, que chega às cenas sem qualquer esforço. É a minha típica série “leve” para descontrair ao fim do dia e, da mesma forma que um verdadeiro podcast, as coisas vão-se descobrindo aos poucos, sem aprofundar em demasiado no início, mas onde a verdadeira magia nos chega nos últimos episódios, onde as reviravoltas são tantas que nos prendem na sua rede e onde a afinidade que ganhamos às personagens se descobre verdadeiramente.
E já agora, quem é que não se sente tentado a ver uma série em que o Sting faz de si próprio e é suspeito de odiar animais?
A segunda temporada estreia este ano e mal posso esperar. Até porque a pergunta inicial continua sem resposta…