O tempo que o tempo não tem.

A vida é um frenesim, às vezes parece que estamos num carro a alta velocidade, a meio de uma corrida, onde temos que ser sempre os primeiros a chegar. Enterramos-nos numa espiral de pressões, aceleramos, avançamos quase sem respirar, passam-se meses, talvez anos, vamos esquecendo pessoas que amamos, sonhos que queremos realizar. Não nos lembramos de nós e do que deveria ser realmente importante, damo-nos de conta que é difícil encontrar o equilíbrio e que nada vai ser como antes. Andamos contra um tempo que na verdade não existe, um tempo que não é nosso, um tempo que passa sem nos avisar e que temos medo que vá acabar. Queremos fazer tudo. Ter tudo.

Permitimos que as exigências diárias nos suguem até aos ossos em prol dessas obrigações que nos convencemos ser nossas. É um abraço que se perde, que deixa de ser agora, porque o tempo não se consegue, há muita coisa para fazer e esse abraço deixa de ser. É uma hora que se ganha, mais uma brincadeira que se adia, uma criança que perde a alegria porque há coisas para despachar, e a noite toma o dia e chegou a hora de jantar. E aos pouquinhos vamos deixando os detalhes que nos faziam felizes, já não temos tempo para namorar, brincar e usufruir da vida, e o mais triste é que tudo isto nos passa despercebido, vivemos como imortais, dedicamos tempo com quem pouco nos interessa e com coisas na cabeça por resolver. Ignoramos que o tempo rouba-nos, devora-nos e faz-nos sentir incapazes e cada vez menos importantes na vida de um ser.

Contudo, vem o universo para pôr tudo no lugar, mostra-nos quando é preciso parar. Primeiro de mansinho, dá-nos os sinais e para quem não os quer seguir, vem um dia e cai-nos tudo ao chão, o tempo que pensávamos que não tínhamos obriga-nos a ouvir as batidas do nosso coração, a seguir a nossa intuição. Aí tomamos consciência da importância da quietude, de acalmar os pensamentos que estão a fervilhar. Criamos a capacidade de ouvir atentamente a brisa que passa, os pássaros que chilreiam e as flores a dançar. Compreendemos que cada um tem o seu ritmo e que não é preciso estar sempre a apressar, passamos a ver o mundo com outros olhos, de um perspectiva, mais calma, mais resumida, começamos a dar mais importância a todas as formas de vida.

E fica claro, que demos demasiado poder ao tempo, esforçamos-nos para o desaceleramento, aprendemos a parar e a respirar também, passamos a perceber que em vez de perder tempo, devíamos era perder a noção do tempo e das brumas que ele tem.

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