Disney no País dos Monopólios

Devo garantir desde já que não sou a pessoa indicada para falar bem da Disney. Por isso, vou esperar que façam o vosso vudu à minha pessoa e depois podemos continuar.

Já está? Então, passo agora a explicar por que é que não vejo a Disney como um mundo encantado como 99% do mundo vê.

Não me entendam mal, durante a minha vida vi e continuo a ver imensos filmes da Disney. Adoro as histórias e a animação, mas nunca fui fã dos clássicos, como a Pocahontas, a Mulan ou o Aladin, e só o vi o Rei Leão já com 20 anos (começaram a picar os bonecos não foi?). No entanto, gosto imenso de clássicos como a Branca de Neve e os 7 Anões ou o Bambi.

No entanto, a Disney neste momento é a empresa que “come” outras empresas e caminha a largos passos para o monopólio sobre a televisão e o cinema. Só para falar nos grandes nomes, a Disney é a dona da ABC (a companhia televisiva responsável pelas series “Modern Family”, “Grey’s Anatomy” e “How to Get Away with Murder”), dos Muppets (a Disney é desde 2004 a detentora de toda a produção cinematográfica e televisiva da franquia), da Marvel (em 2009, a Disney comprou a Marvel, o que gerou alguma inquietação visto que a casa de Stan Lee estava numa fase inicial dos tão esperados Avengers), da LucasFilm (sim, desde 2012 que a Princesa Leia se tornou numa princesa da Disney), da Pixar (uma das suas grandes concorrentes na área da animação) e, mais recentemente, a Fox (fazendo assim com que a família Marvel ficasse novamente junta, visto que as personagens de Quarteto Fantástico e do X-Men pertenciam até então à Fox). E estes são apenas alguns exemplos.

Neste momento, um punhado de empresas consegue controlar quase todo o conteúdo de entretenimento que consumimos. São elas a Netflix, a Amazon, a Disney, o Facebook e a Apple (ter em conta que estas empresas são as detentoras de muitas outras).

A imprensa norte-americana aponta para uma guerra de entretenimento. Atualmente a Walt Disney domina com 18,4% da bilheteria doméstica, enquanto a Warner Bros/Time Warner Inc. lidera com 20,1%. A Universal, se considerado a Focus Features, é a terceira colocada, com 15,8%, e a Fox corresponde a 13% do mercado de cinema dos EUA de 2017. Com a compra da Fox, a Disney passa a controlar entre 30% a nível nacional e 40% do mercado internacional, enquanto que a Universal controla 15% e a Warner Bros. 20,1%.

No entanto, o futuro esmagador da Disney não passa apenas pelo cinema. Neste momento, o que falta para a casa do Rato Mickey atingir a estratosfera é uma plataforma de streaming. Por exemplo, até ao último trimestre de 2018, estavam disponíveis as series Daredevil, Jessica Jones, Luke Cage e Iron Fist, ora, algumas com mais sucesso outras nem tanto. Só que, com o crescimento da Disney com a Marvel sob a sua alçada e com os seus novos planos, as séries foram todas canceladas pela Netflix, deixando imensos fãs desolados, com histórias por terminar,e sem saber o futuro das series que acompanharam ao longo de anos. Será que voltarão no futuro?

Pouco provável.

Apesar das personagens pertencerem ao universo Marvel/Disney, os contratos eram com a Netflix.

A concentração de poder prejudica o mercado e tira do consumidor a possibilidade de escolher por um melhor serviço e diversificação para assistir o que quer.

Isso sem contar a iminente dança das cadeiras e demissões que ocorrerão de forma inevitável. Até dos nomes mais importantes da industria, como o presidente da companhia e CEO da Fox Networks Group, Peter Rice, os co-diretores da Fox TV, Gary Newman e Dana Walden, e o CEO da FX Networks, John Landgraf, que admitiram que nem os seus cargos estavam totalmente a salvo.

Apesar se ser bastante interessante de analisar o crescimento deste império que começou com um pequeno rato de grandes orelhas, é também assustador. A velocidade a que acontece e quão fundo vai, porque, apesar de tudo, não sabemos qual o próximo gigante a ser engolido. Além de que é cada vez mais difícil de fugir destes conteúdos.

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