Há questão de 17 anos, mais ou menos, andei na maior montanha russa que alguma vez imaginei. Tinha loops e descidas a pique. Momentos em que pensei: “É desta que eu vou sair a voar daqui”. Ou talvez não. No final, todos suspiraram. Eu dei o ar da minha graça e soltei o meu primeiro choro sentido.
Não me deram nenhum balão de bom comportamento, porém, puseram-me logo uma fita na cabeça. Tinha acabado de sair da fila de espera com 9 meses de atraso, diretamente para a que seria maior aventura da minha vida.
Durante essa loucura, foste a corajosa que ia na carruagem da frente. Com os braços ao alto a aproveitar a velocidade atingida. Não exigiste ticket. Estaria à borla na tua propriedade, mas, “enquanto estiveres por de baixo do meu teto quem manda sou eu”. Sim, eu sei de tudo isso.
Deixaste que fosse sozinha na carruagem. Mesmo eu sendo uma medricas e tu uma medrosa. Fui a medo e tu também. “Eu posso avisar-te que está aí um buraco, mas vou deixar que vejas com os teus próprios olhos que ele existe.” Eu sei. Querias que eu própria percebesse que era demasiado frágil para ir sozinha, mas fui. E tu também. Estavas lá. Nem podia deixar de ser. Era a nossa aventura. E não de mais ninguém.
Tínhamos uma plateia a olhar para nós. Como é que era possível uma mãe deixar a filha sozinha no carrossel? Sorriste. Sorriso 33. Aquele com a narina semiaberta, testa franzida e olhar quase cerrado. E saiu um “Desculpe, não estou a entender”. Deviam se ter enganado. Não estariam a questionar o quão exigente eras. “Olhe que o seu teto é de vidro, não atire pedras ao do vizinho.” Dizias.
No meio da questão de segundos que foi o carrossel com música, nada adequada. Havia duas certezas. Era motivador ver os teus braços no alto, à minha frente. E eras a melhor. Melhor. Melhor. Melhor. Quantas as vezes que pensei que não voltaria àquela montanha russa. Mãe do mundo.
Porque se fosse para voltar a ir contigo na diversão da feira popular, a que chamam validade, eu esperava outros 9 meses.