“Meu Pai”

Só quem conviveu com pessoas com doenças neurológicas como a demência sabe o quão desgastante e sofrido é ver o outro se perder.
Aos poucos esquecem onde estão os objetos, em seguida não se recordam mais de locais, pessoas, até não reconhecerem a si próprios.
É um sofrimento que só acaba quando o outro se liberta para outro plano.
Minha avó teve Alzheimer e antes de se perder totalmente, lembro de uma frase que está presente comigo há mais de 12 anos: “não me deixem perder a minha dignidade”, mas como evitar o inevitável? A dependência que se faz necessária com a incapacidade de suas próprias ações?
“Meu Pai”, do Diretor francês Florian Zeller é um soco no peito. Mas de enorme sensibilidade e criatividade porque escancara essa verdade.
Se eu pudesse entregar algum Oscar esse ano, sem duvida seria a este filme. Até pela conjunto da obra. Atuações incríveis, Produção de Arte, Cenografia, Fotografia, Direção e Produção impecáveis! Tudo funciona em perfeita harmonia.
***Resumo e comentários***
“Meu Pai” conta a história de Anthony (Anthony Hopkins), um homem idoso que mora em seu apartamento em Londres, e que, já com os sinais de demência, recusa todo tipo de ajuda e cuidadoras contratadas por sua filha Anne (Olivia Colman), que está de mudança para Paris, e não poderá acompanhar o pai de perto.
Para o espectador, situações estranhas começam a acontecer. Anthony ora está em seu apartamento, ora está no apartamento da filha. Objetos desaparecem, pessoas desconhecidas se dizem familiares dele, nada mais faz sentido.
E em alguns momentos, ficamos mesmo na dúvida se a confusão é parte da cabeça de Anthony, ou se há um plano secreto para se livrarem dele.
O incrível Anthony Hopkins, que recebeu o Óscar de Melhor Ator por este filme, a incrível Olívia Colman, indicada ao Óscar de Melhor Atriz Coadjuvante por este filme. E o excepcional Florian Zeller, vencedor do Óscar de Melhor Roteiro Adaptado por este filme, um verdadeiro maestro ao conduzir os planos e a história, que é de sua autoria, na adaptação para o cinema.
É um choro que fica engasgado, um grito sufocado.
É um sofrimento ver, sob o olhar de quem sofre da doença, a falta de pertencimento e identificação com quem amamos, com o lugar que vivemos e com quem já perdemos, o não se reconhecer, e se infantilizar, mesmo na velhice, por sentir a ausência da mãe.
“Meu Pai” é inegavelmente uma obra de arte. Um filme que todo mundo precisa assistir.
Curiosidade: O Diretor Florian Zeller, ao escrever o roteiro, confirmou que o fez pensando em Anthony Hopkins para o papel, tanto que o personagem original chamava-se André e o nome foi alterado para Anthony. Além do mesmo nome, personagem e ator também tem a mesma data de nascimento.
Nota: este artigo foi escrito seguindo as normas de português do Brasil.
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