Revi há dias um dos grandes filmes deste século: a obra argentina O Segredo dos Seus Olhos [existe um remake americano mas recuso-me a vê-lo].
Vi-o pela primeira no computador, depois de sair irritado da noite dos Óscares em 2010, quando passei meia noite acordado à espera dos prémios principais (só vinham depois das três da manhã), e vi este filme levar de vencido o meu favorito, O Laço Branco de Michael Haneke. Não virei logo a opinião a favor da obra latina (afinal, a teimosia e o orgulho têm um papel a defender, e Haneke continua a ser um dos grandes mestres do “meu” Cinema) mas quando o revi, dois ou três anos mais tarde nas festas da Cidade, numa noite ventosa de Junho (que pleonasmo) com mantas e agasalhos no Cineconchas, rendi-me.
O filme de Juan José Campanella baseado do romance de Eduardo Sachery (não li mas deve ser fantástico), apanhou-me. Talvez tenha sido também o efeito do grande ecrã, de ter visto o filme ao ar livre ou apenas ter deixado cair a resistência que levava pela derrota do meu preferido e ver esta história de cabeça limpa.
Benjamin Espósito, um investigador reformado, resolve escrever um livro baseado num caso que tinha ficado por resolver décadas antes. Não fora só o caso que se depositara na sua vida sem resolução mas um amor nunca concretizado por Irene Menéndez Hastings, sua superior. A química entre os dois é um dos feitos deste filme, mas todo o elenco é fantástico, bem como a história da brutal violação e assassinato de Liliana Coloto.
Um filme onde os factores humanos se interligam, onde o caso afecta não só as vítimas como os investigadores, onde os detalhes quase escondidos regressam como um boomerang para completarem o sentido que as últimas cenas revelam e que possui o mérito de nos prender a atenção ao ritmo ideal, sem pressas nem secas: apenas não damos pelos 130 minutos passarem.
Creio ter sido este o filme a abrir as portas para o Cinema Argentino (até hoje, para mim, o melhor da América do Sul) e a mostrar-me Ricardo Darín.
Uma história policial cuja trama se entrelaça com a sensibilidade de cada personagem e as vidas que transportam. Todos têm problemas por resolver, encontrando vias diferentes para lidar com o modo como o trabalho os afecta, desilude ou pressiona. Todos os personagens são maravilhosos (talvez já o tenha escrito, mas são mesmo!) e à história, perdoamos alguns fios de inverosimilhança pelo bem que nos faz ver bom cinema! E a angustiante frase que percorre o filme… não será aquilo de que todos nós fugimos?