O Porto é sentido por quem cá vive. É uma forma de estar que se apanha e entranha. O Porto é sentido pelos que não viram as costas à luta. Pelos fortes e pelos genuínos. Pelos que trazem a ribeira no coração que dizem só ter uma cor “azul e branco”. Pelos fozeiros que trazem impregnado o “ar de bem”. O Porto é sentido por quem na hora do aperto sabe sempre dar uma mão. É sentido por quem partilha. No Porto, ninguém se perde porque ninguém te larga enquanto não tiveres a certeza do caminho. No Porto, fala-se alto e o coração está ao pé da boca! O Porto tem uma linguagem própria (ou imprópria).
Não sendo especialmente adepta de festividades nem de contactos sociais intensos celebro com júbilo a tão apreciada festa em honra de S. João. Aqui dedico algumas singelas linhas do que merece ser louvado. Católicos ou não, entendidos na sua história ou desligados, todos saem à rua para celebrar o nascimento do profeta. É uma noite mágica! Viva o Porto.
Inicialmente festa pagã, com origem no solstício de Verão, festejava-se a fertilidade e abundância nas colheitas, mais tarde foi tornada cristã com atribuição de um santo padroeiro.
S. João Baptista nasceu 6 meses antes de Jesus Cristo. O Arcanjo Gabriel, mensageiro de Deus, informa Zacarias e Isabel, prima de Maria que, apesar da sua idade avançada, ser-lhe-ia concedida a graça de dar à luz um menino ao qual poria o nome de João. 6 meses depois nasceria o Messias, daí que a comemoração do seu nascimento, 24 de Junho ocorra 6 meses antes da celebração do nascimento de Jesus, 24 de Dezembro, véspera de Natal.
O alho porro, com o seu odor tão encantador, espanta o mau olhado e homenageia a fecundidade. Não me parece atitude de valor desviar a cabeça quando alguém nos quer acertar. Espero sempre em algumas horas ficar protegida para o ano inteiro. Os martelinhos com as suas cores vibrantes e combinações a gosto, foram criados no ano de 1963, numa fábrica em Rio Tinto. Pretendiam ser usados como instrumento ruidoso para a Queima das Fitas. São, atualmente, requisito obrigatório na folia com os apitos a preencher o quadro sonoro. O manjerico, planta aromática sagrada para os indianos, erva dos namorados em tempos passados, está presente como uma forma de dar e receber amor. Entra pela nossa casa por iniciativa própria ou como oferenda. Traz consigo a bandeirinha colorida com uma rima jocosa ou romanceada. Os manjericos são plantas muito sensíveis não ofereçam a qualquer pessoa. Só um cuidador com vontade vai conseguir que ele dure mais algumas semanas.
O fogo na ponte já foi lançado. Da ribeira até à foz caminha-se com maior ou menor dificuldade por entre risos, bebida e algum frio, porque a madrugada já vai alta e o vento à beira-rio corta. Fazem-se promessas de voltar. E voltam (se não aqueles, outros), porque o nosso S. João não morre e a caminhada será sempre única para quem a sente.
O Porto é bonito para os turistas, mas é sentido por nós. E o que é verdadeiramente nosso apenas pode ser apreciado pelos outros do lado de fora. Fica muita coisa por sentir aqui no nosso Porto Sentido. Ainda assim está tudo certo. São coisas nossas que eles não entenderiam.
Escrevi o S. João na revista
Foi sentido e esforçado
Feliz estou com a conquista
Deste texto abençoado