Well, Tillie, when the hell are we gonna get some dinner?
– Matt
Este filme conta a história de um jovem casal, John (Sidney Poitier) e Joey (Katharine Houghton) de etnias diferentes que informam os seus pais que se pretendem casar desafiando os princípios estabelecidos.
Um filme brilhante e provavelmente o melhor sobre o paradoxo de amor entre diferentes etnias.
Os dois atores são muito bem escolhidos e o enredo é perfeito pois para além de serem de etnias diferentes os dois têm idades muito distantes e conhecem-se há 10 dias, e no entanto a única coisa que levanta qualquer questão é a diferença de etnias mesmo existindo outros fatores que poderiam levar a reprovação por parte dos respetivos pais.
Quanto à representação, penso que mesmo com gigantes como Spencer Tracy no papel do pai Matt (que lamentavelmente tem aqui a sua última representação, ainda assim soberba) e Katharine Hepburn no papel da mãe Christina (que ganhou (mais) um óscar, merecidamente, por este filme), não posso deixar de realçar Sidney Poitier como o que entrega a atuação mais aguerrida e bem conseguida, ainda que as cenas mais marcantes pertençam aos veteranos atores que referi acima.
O filme é como um fogo lento na forma gradual como faz cada personagem questionar os seus princípios, um casal como Matt e Christina que sempre ensinaram a filha a que a diferença racial não importa vêm-se confrontados com uma situação que os obriga a olhar para si mesmos e perceber se a hipocrisia mora lá ou não.
Com um final imensamente poderoso e com uma mensagem que desafiou as leis da sua própria época, “Guess Who’s Coming To Dinner” traz um conjunto de perspetivas válidas e termina com verdades absolutas de uma forma inspiradora. Brilhante
* CUIDADO COM SPOILERS *
O filme começa de uma forma muito singela com os dois apaixonados a saírem do aeroporto ao som de uma belíssima música que define o tom meio dramático meio leve de toda a história.
Acho que o casal parente de John, que aparece mais tarde no filme, acrescenta um tom emocional importante, pelas visões opostas que espelham os pais de Joanna e que fazem Matt perceber que se calhar são todos iguais no final das contas. O filme vai fazendo diferentes pares de conversa (John/Matt; Matt/Mrs. Prentice; Christina/Mrs Prentice; Matt/Mr. Prentice, etc) e isto ajuda a que todas as perspetivas se cruzem em várias alturas do filme com diálogo profundo e muito bem escrito. Gostei da adição de uma funcionária do local onde Christina trabalha, que ajudou a firmar os princípios de Christina, não gostei assim tanto de Tillie que serve mais para ironizar a desconfiança (visto ela própria ser negra) mas acho que não teve o impacto desejado. O padre presente é sem dúvida das pessoas mais sensatas em cena e também ofereceu boas cenas.
O final é absolutamente sublime com um monólogo icónico entregue por Spencer Tracy na sua última cena de sempre em cinema e que forma digna de terminar a carreira, a forma como ele entrega uma frase como “Se eles sentirem metade do que nós sentimos, isso é tudo” perante um choro real de Katharine Hepburn é um sentimento que vai para além da ficção. Uma enorme experiência de cinema e na minha opinião o melhor filme de 1967.