“O Relutante Fundamentalista”: entre o dinheiro, o preconceito e a moral

O Relutante Fundamentalista” conta-nos a história de um jovem professor paquistanês – Changez Khan – que, após vários protestos estudantis em Lahore, recebe um convite para ser entrevistado por Bobby Lincoln, um conhecido jornalista de nacionalidade americana. É, então, que, através da entrevista concedida pelo protagonista, somos levados a acompanhar o seu percurso de vida, no período compreendido entre 2001 e 2011.

No filme realizado por Mira Nair e escrito por William Wheeler, somos, por um lado, confrontados com a típica história do jovem ambicioso e determinado que parte à conquista do sonho americano. Por outro, assistimos ao vincar da nacionalidade do indivíduo.

De facto, estamos na presença de um paquistanês que, segundo as palavras do próprio, foi “educado para se sentir muito como tal” – afirmação a partir da qual se depreende que a sua formação compreendeu o respeito pelo Corão, a referência da Sharia e o desprezo pela cultura ocidental. Todavia, este último ponto não se chega a concretizar, uma vez que Changez estudou numa universidade americana, simpatiza com o estilo de vida americano e projeta nos Estados Unidos da América o seu futuro.

A narrativa torna-se, então, numa clara exploração das ambiguidades Ocidente/Oriente, representada pela magnificência nova-iorquina, que vem contrastar com a autenticidade da espiritualidade islâmica.

O ataque ao World Trade Center, no filme, mostra que os EUA são vistos como a Babilónia moderna, onde a satisfação pessoal e o comércio vieram sobrepor-se à religião, à tradição e à grandeza do espírito. Vence, aqui, o materialismo vazio associado ao pragmatismo.

Sob outro ponto de vista, o atentado também serve como meio para explicar que, a partir desse momento, instalou-se uma desconfiança generalizada em relação aos orientais que aparentem uma tez mais escura e barba. De facto, a mesma América na qual Changez investiu, desconfiou dele até ao último momento, obrigando-o a substituir a riqueza e a beleza americanas pela simplicidade de uma carreira docente.

É desta forma que, na aliança entre a forma como vemos o outro e o outro nos vê a nós, o filme concorre para uma reflexão sobre os preconceitos que emergem de uma verdadeira busca pela segurança ou de uma potencial perseguição banalizada.

Em suma, a história da personagem Changez Khan é um mote relevante para se compreender o mundo em que vivemos. Mundo este que é habitado por humanos com origens múltiplas. Com todos as divergências de ideais que tal implica.

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