Este é um filme onde a estranheza e solidão se mostra em todos aqueles que são “estrangeiros” em “terra não sua”. Por vezes, é apenas uma diferença, na mente/cérebro que lhes dita essa solidão, nunca compreendida pelos demais que não lhes assiste.
Um drama/ficção que, sem ser de outro mundo, nos leva para o mundo estranho dos que são diferentes do padrão. Que, na maior parte das vezes, acolhidos sobre o peso da intolerância, tentam integrar-se na sociedade como alguém, cuja patologia os identifica e define.
É óbvio que a doença requer um acompanhamento adequado, contudo, não se pretende, aqui, desvalorizá-la quanto à sua existência e tratamento, bem como, estigmatizá-la como banal ou sem importância. Dessa forma, não se identificando com o que irá ser abordado neste texto ou sobre o personagem do filme.
K-Pax, é uma cinematografia de 2001, com Kevin Spacey no papel principal e, Jeff Bridges, actor secundário. Baseado no romance de Gene Brewer, com o mesmo título, e sob direcção de Iain Softley.
Relembro, aqui, este filme, meio esquecido pelo público e crítica após os atentados de 11 de Setembro. Talvez, por isso, sem qualquer nomeação para os Óscares – merecedor sem dúvida, pelo apelo aos dramas em volta de doenças mentais e da condição humana.
PRÔT, o Homem do Outro Mundo
Prôt , um ser de outro planeta visita a Terra na forma humana e, que se encontra preso em um hospital psiquiátrico em Manhattan. Personagem representada por Kevin Spacey – quem não se lembra dele em Beleza Americana?, no papel principal.
Se é mesmo um visitante do planeta K-Pax ou, apenas um louco, “esta é a história mais convincente que eu já vi”, como confessa o psiquiatra Dr. Powell, que tenta “curá-lo a todo o custo. Jeff Bridges – quem não se lembra dele em Iron Man, de 2008?, como actor secundário neste filme drama/ficção.
Esta é a dúvida que acompanhará o espectador até à última cena, cabendo a cada cinéfilo fazer o somatório das pistas deixadas ao longo da narrativa e criar a sua própria conclusão.
Há algo de absurdo na loucura que, nos transpõe ao desconhecimento da condição humana. A necessidade de encontrar uma razão, causa, um sentido ou um motivo para alguém, que é caracteristicamente “estrangeiro”, que veio de outro lugar e que, claramente, cria uma estranheza ou mal estar nos outros, só pelo facto de existir.
Uma “cura” que não o é, somente porque é racional.
“Se abstraímos do ideal ascético, vemos que o homem não teve até agora finalidade alguma. A sua existência sobre a terra carece de objectivo. (…) queria dizer que em volta do homem havia uma imensa lacuna; não sabia justificar-se a si mesmo, interpretar-se, afirmar-se; sofria ante o problema da vida. E sofria de muitas maneiras; era antes de tudo um animal doente, o seu problema, porém, não era a dor, mas a razão da dor. “O homem, o animal mais valoroso e enfermiço, não repele a dor, antes a procura, contanto que lhe digam o porquê.”
– Nietzsche, A Genealogia da Moral
Este excerto é apenas uma polémica, obsoleta, de séculos passados, um ensaio filosófico sobre a condição humana, a moral que a envolve e, a “loucura” num indivíduo sobre a sua visão do mundo. Ou, não apenas?
K-Pax, o filme, nada tem de ascético. Em suma, leva-nos a reflectir sobre os paradoxos do comportamento do indivíduo e como se inserem na mesma civilização, com tanto que existe para além de si mesmo, quer seja, a Humanidade ou, o próprio Universo.
Evolução que nos faz duvidar da forma como esta Civilização chegou até aqui.
Evolução que nos afirma o pequeno que somos e o tanto que damos importância a coisas menores, sem entender o que está para além de.
“Sou apenas um caminhante
Que perdeu o medo de se perder
Estou seguro de que sou imperfeito
Podem me chamar de louco
Podem zombar das minhas ideias
Não importa!
O que importa é que sou um caminhante”
– Augusto Cury, O Vendedor de Sonhos e a Revolução dos Anónimos
Somos todos estranhos em terra alheia. Anónimos num mar de gentes e apenas o que é visível é assimilado. Coisas que não são compreendidas “até este momento”, em que nos é dado conhecer pela irracionalidade da emoção – K-PAX, Um Homem do Outro Mundo.