De todas as economias do mundo, a japonesa é a que mais suscita curiosidade. É interessante perceber como um país localizado numa das zonas geologicamente mais activas do planeta, daí a frequente ocorrência de sismos e tsunamis, com tantos vulcões (54 em actividade), um relevo irregular, com predomínio de zonas montanhosas (apenas 15% do solo serve para a agricultura), pobre em matérias-primas e um clima que difere de Norte para Sul, de uma zona muito fria de Invernos rigorosos para uma zona subtropical no Sudoeste, consegue, mesmo assim, ser uma das economias mais desenvolvidas na actualidade. Os abanões nos seus alicerces têm sido muitos. Recorde-se que apenas passaram três anos da sua última grande catástrofe natural.
De um país pobre a uma potência mundial
Nem sempre o Japão foi o país rico, desenvolvido e inovador que conhecemos hoje. Há apenas um século, não passava de um país pobre, feudal, atrasado, resguardado das inovações que ocorriam pelo mundo fora, vivendo apenas focado numa agricultura arcaica e numa indústria artesanal. Seria na era de Meiji, entre 1868 e 1912, que se daria a grande reviravolta.
Durante esta época, o governo percebeu que, para criar um Estado e uma economia forte, era necessário importar ideias do ocidente e conjuga-las com os valores tradicionais. Foi o que fez. Apostou tudo na educação, através da sua restruturação e intensificação. Introduziu novas ideias vindas do exterior, tanto na educação, como na economia e na política, incentivou os jovens a estudar, inclusive, fora do país, e atraiu técnicos e maquinaria do estrangeiro para as empresas. Quando já não necessitavam deles, esses mesmos técnicos foram despedidos e substituídos por japoneses formados. Simultaneamente, valorizou-se aspectos culturais, como a cultura de planeamento a longo prazo, a disciplina social, a harmonia, o trabalho bem executado, a procura pela inovação, a eficiência e a improvisação. Foi, ainda, montado um sistema de colaboração entre as empresas e o aparelho do Estado.
Seis décadas depois, o Japão era um país industrial moderno, equipado com todos os recursos da ciência e da tecnologia, com capacidade de produzir a maior parte dos produtos manufacturados e com uma rede de comunicações moderna estabelecida, que lhe permitia ter um largo comércio. Os japoneses não eram apenas respeitados a nível económico, também o eram a nível militar. Tinham derrotado a China, em 1894, e a Rússia, em 1905, uma das maiores potências europeias e possuíam a terceira melhor marinha do mundo. O Japão tinha-se tornado uma potência mundial.
O milagre depois da Guerra
Seguiram-se duas grandes guerras mundiais. Na segunda, a par da Alemanha, foi o país mais afectado, em consequência das duas bombas atómicas lançadas (Hiroshima e Nagasaki). Depois do pedido de rendição, em Agosto de 1945, o território foi ocupado pelos americanos. Do querer dominar o mundo, os japoneses passaram a ser os dominados. Foram tempos muito difíceis para os lados do país do sol nascente. Só a partir de 1952, após reaver a soberania, o Japão se conseguiu reerguer. Invés de ganharem rancor aos Estados Unidos da América (EUA), os japoneses perceberam que se mantivessem uma estreita relação com os americanos, a recuperação seria mais rápida.
Dos EUA, o Japão copiou o modelo de educação e de indústria, mas foi ainda mais longe que isso, compreendeu imediatamente que o futuro estava na tecnologia. O resultado foi estrondoso, para teres ideia, antes da guerra, as máquinas e os produtos químicos representavam somente 16% do total das exportações, trinta anos depois, eram 82%, e se, em 1930, um trabalhador japonês produzia cinco vezes menos que um trabalhador americano, hoje, graças às fábricas robotizadas de automóveis, chega a produzir sete vezes mais. Na década de 80, o Japão já não dependia economicamente dos EUA e era novamente a grande potência que outrora fora.
Os grandes construtores não foram os políticos, foram os grandes industriais, os criadores da Sony, da National, da Honda, da Seiko, da Toyota, da Nissan e do maior jornal do mundo – Yomiuri. O progresso é assente na circulação de informação. Não é por acaso que o Japão é considerado o país mais bem informado do mundo. Só a Mitsui possui uma rede de telecomunicações de 400 mil quilómetros, tendo vinte e quatro linhas directas para Nova Iorque.
O sistema empresarial, além de estar sempre atento às inovações que vão surgindo, possui uma estreita ligação entre o marketing e a produção, por exemplo, a Toyota só produz o número de carros que pode vender. Claro que isto, conjugado com os altos salários pagos aos funcionários, que por sua vez se revêm no poder de consumo elevado, os valores culturais, como a disciplina e a eficiência, as altas taxas de exportação, infraestruturas modernas e um forte sistema bancário, fazem deste país uma máquina económica imbatível.
Fukushima: uma ferida por sarar
Nem tudo é um mar de rosas em terras nipónicas. Como se sabe, o Japão é um país sujeito a terríveis catástrofes naturais. A 11 de Março de 2011, um forte sismo de magnitude 9,0 na escala de Richter, seguido de um violento tsunami, devastou a região noroeste do país e vitimou cerca de 15 mil pessoas. A agravar a tudo isto, o tsunami afectou gravemente a central nuclear de Fukushima Daiichi, o pior acidente desde Chernobil, em 1986. Os prejuízos, desde então, têm sido milionários. A crise nuclear obrigou o Japão a aumentar consideravelmente as importações de petróleo, afectando gravemente a economia do país. O Japão luta, uma vez mais, para reerguer a sua economia. A História prova que terão sucesso, resta saber como será desta vez.