The Man from UNCLE, no título original, não é apenas um filme de Guy Ritchie, realizador de Snatch – Porcos e Diamantes e Sherlock Holmes, é, sobretudo, a sombra comercializada de uma série de culto dos anos 60.
Mesmo que o realizador tivesse optado por contar uma história ao encontro de outros agentes especiais (como se fez em Missão: Impossível, também ele instrumento de adaptação de série televisiva), com o(s) agente(s) deste novo filme, só criou ilusões. É mais uma daquelas amostras de fiascos que se poderão juntar a RocknRolla: A Quadrilha (2008) – outro produto do realizador em questão.

Puro mecanismo industrial de reativar o género, Ritchie não conseguiu ser bem sucedido na escolha das suas estrelas para o papel principal. Muito longe da engenhosa e cómica dupla Downey Jr. / Law (protagonistas dos seus anteriores projetos cinematográficos), a química de Henry Cavill e Armie Hammer não levanta voo nem por um segundo.
Paralelamente ao derrotado par, juntemos Alicia Vikander. A atriz, que veremos mais para o final do ano em The Danish Girl / A Rapariga Dinamarquesa, de Tom Hooper, não contém a essência da persona (ou máquina, como preferir) que vivenciou em Ex Machina. Não há jogo de rato e gato, apenas umas tolices desnecessárias e muitos socos na cara. A sua Gaby não garante o modernismo atingido pela melhor máquina do ano. Só o seu guarda-roupa consegue ser contemporâneo, evitando o total repelir diante deste seu desempenho. Nem mesmo Elizabeth Debicki, pelo seu elegante corpo, sobressai. O seu caráter, que todos entendem ser malvado, não se compõe.
Além disso, muito embora não siga os padrões de um filme de super-heróis, remete para a mesma espécie de nostalgia diante do processo de selecção dos seus atores. Cavill quer provar ser Super-Homem por outras andanças, mas perde-se com tanto charme. Já Hammer corrompe a maioria dos atores que falam inglês com sotaque russo. O seu nervosismo psicótico é irritante. Imperdoável seria se a personagem tivesse um irmão gémeo (lembremo-nos do extraordinário A Rede Social), uma vez que o espetador sairia da sala o mais rapidamente possível. Nenhum dos agentes (americanos, ou russos) se satisfariam com as brincadeiras destes atores. A própria Guerra Fria tratou-se, quase exclusivamente, de um jogo mental, algo que o filme rejeita.
O mesmo só convence pelos décors, cuja temporalidade é evidente e que se mantém no seu prolongar, e por sua vez, pelo guarda-roupa tres tres chic. Desta forma, Joanna Johnston está na linha da frente – nesta fase que começa a piscar o olho à temporada de prémios – para alcançar uma nomeação ao Óscar da Academia.
Atente ainda às desnecessárias repetições em flashback. Mesmo a ritmo frenético, o filme parece contradizer-se a si mesmo, quando anula certas elipses e retoma a ação de apenas alguns segundos antes (sim, segundos). Essa mesma rapidez poderá afundar qualquer empatia do seu público, quando utiliza a divisão do ecrã.
Custa também acreditar como Hugh Grant está presente e que raio estava a sua personagem a fazer naquela festa, quando Victoria Vinciguerra (Elizabeth Debicki) é uma Às na descoberta dos seus inimigos?
Vejamos a pretexto desta que é provavelmente a maior desilusão do ano, Spy com Melissa McCarthy produto bem mais arrojado. Só falta esperar para ver o que será feito de James Bond, num período pós-Skyfall.
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