Há muito que a decisão de escrever sobre este filme estava tomada, mas nunca havia encontrado o tom. Agora que me decidi, continuo sem saber para que lado incline a opinião.
Laços de Ternura foi um filme pelo qual me apaixonei muito antes de o ver. Na adolescência, apaixonamo-nos sobretudo, por artistas de Música ou de Cinema – às vezes são as obras que palpitam no nosso coração. Na primeira grande Enciclopédia onde mergulhava tardes e noites a explorar a história do Cinema – o cd-rom Cinemania97 – Laços de Ternura lá estava, com Shirley MacLaine, Debra Winger e Jack Nisholson, com cinco Óscares da Academia (quatro deles principais), com um título a puxar ao drama (Terms of Endearment) e com um realizador para mim desconhecido, James L. Brooks.
Vi-o por volta dos vinte com a minha mãe, uma vez que passou na SIC num fim-de-semana à tarde. “Penso que isso é um grande dramalhão”, disse-me ela no início, e a frase cativou-me. O Drama é um dos meus géneros preferidos. Talvez por ter mais a ver com as angústias da vida, talvez por encontrar nas histórias tristes algum reflexo dos sonhos da adolescência. Noutros géneros como a Comédia ou Acção, sou bem mais exigente. E dá-se o aparente paradoxo de querer que o Cinema me arranque à realidade mal entro numa sala, e que essa viagem possa acontecer com um filme o mais terra-a-terra possível. Não é necessário pôr dragões a cuspir pássaros de ferro para, com um filme, pairarmos sobre a vida. Basta saber fazer bem a coisa, mesmo que seja um filme sobre o quotidiano.
Laços de Ternura acompanha a relação problemática entre mãe e filha ao longo do tempo. Tudo neste filme está feito com tanta sensibilidade que se começasse a desfiar o novelo que o compõe faria deste texto algo demasiado frio, o que, perante este “dramalhão”, não seria justo.
Anos mais tarde, quando comprei o DVD, por aselhice, comecei a ver o filme com os comentários do realizador. Pensei que o disco tivesse vindo enganado e somente a versão comentada estivesse disponível. Desiludido e cheio de má vontade, continuei a ver as cenas explicadas ou revividas por Brooks (que também escreveu o guião baseado no livro de Larry McMurtry), não sem verter alguns palavrões para o vazio que me separava da televisão.
Foi de uma riqueza imensa constatar quão pouco é deixado ao acaso na filmagem de cada cena e como alguns acasos se tornam tão felizes que ganham direito a permanecer na versão final. Foi o que aconteceu numa das cenas mais fortes do filme, com o pequeno Huckleberry Fox.
Um filme sobre a vida e as suas vicissitudes, criticado por alguns (como Sergio Leone) acerca deste género de filmes ser merecedor de reconhecimento em detrimento de outros, mas que para mim permanece como um dos filmes da minha vida.