Tom Cruise regressa para mais um filme de Missão: Impossível. Esta notícia não surpreendeu ninguém. Diante da diversidade de fórmulas, cansadas elas próprias da utilidade que lhes é dada pelos estúdios, o franchise apresentou mais um episódio.
O processo de revitalização da série com o mesmo nome, exibida entre 1966 e 1973, é já um dos mais recentes marcos da sétima arte, com quase 20 anos. Com Brian de Palma, John Woo, J.J. Abrams, Brad Bird chegou a vez de Christopher McQuarrie assumir a direção. Mente inteligente por detrás de Jack Reacher (2010) e No Limite do Amanhã (2014), ambos com Cruise como protagonista, é o melhor dos realizadores a lidar com o estrelato do mais conceituado actor de acção em Hollywood.
Ethan Hunt (ou talvez uma versão americana de James Bond, embora tal comparação seja para muitos desmesurada) é o agente do ano até ao momento. Estamos diante de um filme que prescinde da utilização de duplos, uma vez que os mesmos são ‘reais’. Tom Cruise, que, no capítulo anterior – Missão: Impossível: Operação Fantasma -, já tinha arriscado escalar o Burj Khalifa, o edifício mais alto do mundo, com 828 metros, situado no Dubai, acomoda novamente um espectador nervoso no seu assento, após estar amarrado a um avião de carga.
A estrela suscita na sua audiência os arrepios que o cinema americano sempre quis proporcionar, através da sua fonte de receita mais rentável – o espectáculo. São momentos audazes que nos mobilizam para uma complexa análise, não da personagem do agente secreto em si, mas para persona ousada de Cruise. O actor prova que a idade não significa uma suspensão das proezas que o ser humano sempre desejou alcançar.
Porém, Hunt não está sozinho, nem poderia. Até pode ser uma figura um quanto solitária em acção, mas que defende puros ideais americanos, um deles, a cooperação. A IMF – Força de Missões Impossíveis – é suspensa pela CIA, mas todos os seus membros mantêm-se fiéis ao seu líder. William Brandt (Jeremy Renner), Benji Dunn (Simon Pegg) e Luther Stickell (Ving Rhames) nunca dão provas da sua deslealdade. Este grupo, ou por mero acaso, o quarteto fantástico da temporada, é também o responsável pelo humor presente no enredo – imprescindível a qualquer filme do género.
Embora a maioria do elenco seja do sexo masculino – juntemos a admirável interpretação de Sean Harris como vilão e o desempenho sempre favorável de Alec Baldwin -, a vitalidade de Rogue Nation reside em Rebecca Ferguson. À actriz sueca cabe a função de conceder algum romance ao argumento. Quando o ecrã é preenchido pelo seu rosto, em close-up, torna-se, para os cinéfilos mais atentos, imagem reflectida da também atriz sueca Ingrid Bergman (1915–1982). Irónico é o momento em que descobrimos que o seu nome é Ilsa, o mesmo de Bergman em Casablanca (1942), de Michael Curtiz, nome da capital de Marrocos, onde similarmente, os filmes são filmados e, neste caso, quando o protagonista é abandonado pela sua provável hunt girl. Com carácter que se move como uma serpente, porque cada um acredita no lado em que está, Ilsa ou é heroína, tal como em Hércules (2014) – onde a actriz esteve ao lado de Dwayne Johnson -, ou femme-fatale, detentora de um potencial de acção eficaz no sistema cinematográfico dos dias de hoje.
Perder Missão: Impossível – Nação Secreta é perder o filme que tanto esperamos. A salvação, a par de Mad Max: Estrada da Fúria (2015), que o cinema precisava do ponto de vista comercial. Não apenas uma aventura para toda a família, mas para todo o mundo. Não é por mais que Inglaterra, Estados Unidos da América, Cuba ou Marrocos são os países onde se desenrola a acção. Agora sim pode dizer que foi ao cinema no Verão.
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