Há atores e atrizes cujos nomes num cartaz são suficientes para esgotar salas de cinema em todo o mundo, independentemente da qualidade dos filmes que protagonizam. Até os menos atentos conseguiriam listar uma mão-cheia deles.
Não é esse o caso de Brendan Fraser, o esquecido ator que, na viragem do século, ficou conhecido por filmes como George – O Rei da Selva e a trilogia A Múmia.
Contudo, o seu mais recente filme, A Baleia, trouxe-o de volta às bocas do mundo, num papel tão bem desempenhado que o fez merecer o Óscar de Melhor Ator Principal, na gala de 2023. Prémio esse que recebeu em lágrimas perante uma plateia que o aplaudiu de pé, para a qual discursou de forma tão emotiva e inspiradora que deu vontade de o abraçar no fim.
O filme é uma adaptação ao cinema da peça de teatro homónima, realizado por Darren Aronofsky, autor de outros filmes também consagrados como Cisne Negro e O Wrestler.
Passa-se quase inteiramente na sala de estar da casa de Charlie, um professor universitário que sofre de obesidade mórbida severa. Charlie dá aulas aos seus alunos com a câmara desligada, com a mentira repetitiva de que ainda não lhe foi possível arranjar uma nova câmara para que estes o pudessem ver. É a vergonha da sua imagem que fala por si.
À medida que o enredo do filme avança, apercebemo-nos de que Charlie sofre de doença cardíaca aguda e que o seu fim está próximo. É quando o seu coração dispara, numa das cenas iniciais do filme, que nos confrontamos com a sensibilidade desta personagem: quando pensa que está prestes a morrer, Charlie começa a ler em voz alta e trémula uma redação sobre o livro Moby Dick, que o comove de tal forma que deseja que sejam estas as palavras que o acompanharão no fim.
Mas o que leva alguém a desistir da vida e a começar a comer compulsivamente até se tornar gradualmente na versão mais asquerosa de si mesmo?
Este é um filme que põe em cheque a robustez da alma de um homem que é vítima das suas próprias decisões e dos traumas que o assolaram.
A Baleia não é uma tentativa de glamorizar a obesidade. É uma obra artística capaz de trazer ao de cima o transtorno da culpabilização, a empatia pelo arrependimento e a consciência de que as fraquezas de um espírito podem ser o motor para a sua decadência.