Quando o euro ainda não era euro, mas a união monetária já se tornara uma ideia mais concreta, o mundo estava prestes a sair da Guerra Fria, embora a memória traumatizante da Segunda Guerra Mundial permanecesse bastante viva.
A reunificação da Alemanha foi um desejo da população quer na República Democrática Alemã (RDA), quer na República Federal Alemã (RFA), mas teve dois problemas gravíssimos (entre outros) que tiveram destaque. Um económico e outro de segurança.
A RDA, administrada pelo Bloco Oriental, ou Soviético, estava muito mais pobre, corrupto e repressivo em comparação com a RFA, esta administrada pelo Bloco Ocidental com sua própria crise política. Isto criou um fosso difícil de tapar, tornando problemática a reestruturação para uniformizar todo o sistema. A RDA estava, afinal, tal como toda a URSS, na bancarrota. O custo da reunificação enfraqueceu a economia alemã ao longo de toda a década de 1990, mas eventualmente trouxe estabilidade política. Logo a seguir, Helmut Kohl, o Chanceler alemão, poderia focar-se agora na estabilidade regional – a Europa. Mas precisava da concordância dos outros países.
Entra a outra potência industrial, a França, liderada por François Mitterrand. Tanto ele como a primeira ministra britânica Margaret Thatcher, tinham estado extremamente preocupados com as implicações da unificação alemã para a paz e segurança europeias. A França, entre 1870 e 1940, foi invadida três vezes, impregnando gerações consecutivas com traumas de guerra e ocupação pelos seus vizinhos alemães. O alarme era compreensível. Incluir a Alemanha no Tratado de Maastricht (o qual Thatcher já não estava em funções na data em que foi assinado), que fundava a União Europeia (UE), era imperativo. Este tratado incluía a eventual criação de uma moeda única.
Estabilizar estes dois gigantes era, e continua a ser, imperativo para a estabilidade regional. As memórias que assombram a história recente destes países são aterradoras, e ainda hoje permanecem vivos resquícios desse tempo.
A União Europeia e criação do euro foram, assim, passos importantíssimos para uma estabilidade tal, que as gerações seguintes puderam aproveitar o crescimento da economia, ciência e tecnologia. Não é, de todo, um sistema perfeito, mas tem servido a missão para o qual foi concebido. Certamente preferível à constante tensão, paranoia e ressentimentos que incentivavam os poderes no passado.
A estabilidade económica alemã e garantias de segurança francesas (e vice-versa) são um status-quo que convém sempre considerar manter. Quem tem medo do regresso dos anos 30 e 40 dificilmente discordará. Talvez pareça injusto, e para alguns, reducionista, mas infelizmente a geografia e as vitórias políticas e militares do passado assim ditaram esta sina. Como às vezes se costuma dizer, temos de jogar com as cartas que temos. Encontrar as pessoas onde elas estão, não onde queiramos que elas estejam. Mas devemos exigir sempre melhor!
Sair da UE ou do Euro é, para alguns, a solução para os problemas que enfrentamos hoje. É um esquema atrativo para alguns nacionalistas portugueses, e não são os único na Europa. Cansados do chicote de Bruxelas e dependência de investimento alemão, acusam Portugal de ter pouca soberania. Segundo a última sondagem pelo ISCTE, com 1204 entrevistas validadas, 87% dos portugueses acha que a UE tem “alguma” ou “muita” influência nas medidas dos Governos, embora 88% ainda ache que a UE deve, de facto, ter esse grau de influência. Não vejo como sair da UE ou Euro será melhor, mas estou curioso para ler como casar a nossa geografia e economia com isso.
Contudo, Portugal deve continuar a cultivar relações e colocar-se em posições diplomáticas favoráveis à segurança e contínua cooperação do país, pois parece que estamos a perder importantes alavancas ao longo dos últimos anos. A próxima geração de políticos, desde o Parlamento a Presidentes da República, têm de ter uma capacidade de definir um futuro nacional, e sucesso na concretização das suas políticas. A futura relação da Ucrânia com a UE traz novidades e reflexões para o qual Portugal tem de ter voz. Fazer a Costa ou a Marcelo perguntas de política interna em viagens a países estrangeiros, onde são discutidos acordos económicos e ocorrem operações de charme, é uma incrível perda de oportunidade para dar a conhecer aos portugueses o papel do seu país no mundo.