A saúde em plena pandemia é o caos. Entre consultas desmarcadas, exames cancelados e tentativas falhadas de telemedicina (onde só funciona a “tele” – telefone – e a “medicina” é apenas um vocábulo), venham os utentes e reclamem.
Não sei o que é pior.
A minha preocupação une-se a quem precisa e é apanhado neste sistema maravilha.
A maioria dos portugueses considera que a pandemia dificultou o acesso aos cuidados de saúde, onde milhares de pessoas viram as suas consultas desmarcadas assim como exames adiados.
Os rastreios do cancro de mama, colo do útero ou cólon e recto ficaram suspensos. Com as cirurgias o destino foi o mesmo. Estão, agora, a retomar lentamente. Demasiado devagar para quem precisa e não pode recorrer ao privado.
Fomos brindados com a isenção de taxas moderadoras, que por sinal ainda se mantém. Perante tanta desorganização, uma grande maioria evitou e evita recorrer aos cuidados de saúde, na esperança de um milagre. Bem, nem todos. Alguns gostam de fazer turismo pelos centros de saúde e hospitais, nem que seja para sair de casa e “socializar”.
Há pessoas a morrer todos os dias por falhas neste sistema ressequido.
A diferença abismal entre estratos sociais, no acesso aos cuidados de saúde, é expectável (perante o colapso a que assistimos) embora totalmente dispensável.
Afinal de quem é a culpa?
Já ouço a resposta: a pandemia.
Peço desculpa, meus caros, mas o sistema de saúde já funcionava mal em época pré-pandémica.
Recuem no tempo. Lembrem-se das greves dos profissionais de saúde (mal pagos e sem carreiras), das queixas sucessivas dos utentes sem médico de família atribuído, das listas de espera intermináveis, da falta de profissionais de saúde.
Já esqueceram os meses de Janeiro onde a gripe, uma simples gripe (comparada com o coronavírus) lançava o caos nas urgências de Norte a Sul do país?
O problema já existe há muito. As falhas no sistema apenas se mantinham camufladas pelo esforço hercúleo de cada profissional de saúde. Se isto não correu pior devemos agradecer-lhes, sem excepção, que se reinventaram perante as condições que tinham. A pandemia veio, portanto, confirmar a necessidade de reestruturação, organização e financiamento do SNS português.
A mudança é urgente neste país envelhecido, onde a doença alastra silenciosamente e ceifa vidas dos que lhes vêem negado um direito: a saúde.
“Um homem sábio tem obrigação de saber que a saúde é o seu bem mais precioso.” – Hipócrates, médico grego, 460 a.C. -370 a.C.
Nota: este artigo foi escrito seguindo as regras do Antigo Acordo Ortográfico.