
Existe um medo colectivo, maior do que o próprio mundo, escondido dentro de cada um de nós. Reflecte crenças antigas, baseadas em profecias, sonhos visionários, situações de Apocalipse, extermínio da humanidade e múltiplas adivinhações.
A acompanhar o medo colectivo, outros temores se podem desenhar na mente, baseados nas nossas experiências pessoais, vivências e uns quantos traumas, que vão caminhando ao longo da nossa existência e que, sem querer, nos bloqueiam os passos.
A vida não é fácil. No olhar e bem-estar dos outros nunca poderemos adivinhar os males de estar que poderão coexistir escondidos em sorrisos. Cada um de nós carrega dificuldades e desafios que nem sequer se imaginam em dificuldades e pesos.
Não raro se diz, aos mais optimistas, que no meio da forma alegre que decidiram vencer na vida, que não têm problemas, não têm temor.
Têm. Muitas vezes o pavor é absolutamente real. De que o que carregam se lhes escape por entre os dedos, de que não consigam equilibrar mais os pratos e os deixem cair, que não sejam capazes de lidar com as dificuldades que os escolheram.
Muitas vezes, precisam de um tempo real para parar e com as ferramentas que conhecem se voltarem a centrar, para que se possam lançar no mundo e enfrentar, olhos nos olhos, os vilões da sua própria história.
No meio destas histórias, chegam as colectivas: o medo do que há por vir. A economia que irá colapsar e resultar em fomes. A doença que dizimará a população. A guerra, os loucos no poder.
Não são mentiras. São medos reais. Resultam da história da própria humanidade e assolaram em pequena e grande escala os nossos antepassados. Está-nos gravado no ADN. Factos reais, frequentemente utilizados como forma de manipulação e de instauração de medos. O medo alimenta-se sempre através do próprio medo. A escuridão é necessária e nunca poderá desaparecer se não lhe jogarmos luz.
Existem duas verdades incomensuráveis. Uma é a de que, pela vida, se podem escolher entre dois caminhos: o medo ou o amor. A outra é que a maior arma do ser humano é e será sempre o conhecimento. O conhecimento em geral. O auto-conhecimento.
Eduquem-se as nossas crianças e os nossos adultos, contem-lhes histórias e ensinem a ler. A ler o que apetece porque ler é viciante e absurdamente perigoso à estupidez. Que se mostre que meditar tem muitas formas para além das posições complicadas e estigmatizadas de dificuldades, que vivermos a própria espiritualidade não é se ser alienado e habitar na quarta nuvem acima do céu. Que se ser como se é, é importante e amar se estende da percepção do nosso coração ao reconhecimento do coração dos outros.
Não é fácil a entrega para além dos medos. Não é fácil reconhecê-los e apercebermos-nos das sombras, da realidade. Não é fácil o poder da escolha.
Que esse poder habite em nós. Que caminhemos em coragem, em aceitação própria e dos outros. Que se dê a mão ao medo e se diga em voz alta: então, diz-me lá? Por onde é que temos de ir?