Não existe nada de mais sexy do que uma pessoa que saiba falar e escrever. Ora, acontece que esta é uma exigência dantesca e por isso de difícil solução. O facto de não se saber ler, grosso modo, leva a interpretações erróneas e a juízos de valor, que esses são imediatos, nem sempre muito positivos. Errar é humano, mas também o é querer aprender e melhorar. Somos eternos estudantes e quem emperra num certo nível, costuma escudar-se com laivos de ignorância, trocando os papéis com facilidade.
Os verbos são acções e essas, como se usa dizer em linguagem popular, são para quem as pratica. Ser e estar não significam o mesmo, tal como ouvir e haver, mas grande parte dos usuários da língua portuguesa fazem questão de os baralhar e trocar as suas verdades. Ser relaciona-se com existência e consistência, estar é mais de se acomodar, mas pode ainda saltitar para outro contexto. Haver é uma tragédia. Este verbo é banido por tantos que até faz dó e ouvir passa a ter um outro lugar, que não de audição, tempo.
Na frase “Estou com dores”, entende-se que alguém manifesta o seu sentir. Estar a sentir. É comum ver escrito “Tou com dores”. Pois, não será assim. Tou é fixe, tá? mas não faz a frase. Seria uma frase torta e marreca, mas não certa. O verbo tar é bom de conjugar? Se for no pretérito mais que perfeito diz logo tudo: tara.
Que dizer do verbo haver? Já não há quem o conjugue? Eu hei, tu hás, ele há, nós havemos, vós haveis, elas hão. Sem cão nem ladrão. Mas o hás-des (ou será hasdes?) circula a velocidade de cruzeiro. Tal como o a que passa a verbo, pronome, artigo, determinante e o que mais for preciso. Versátil esta letra que já nem feminina é.
“A muito tempo que hasde fazer muitas ceninhas.” Que delícia de frase! Sabe tão bem como fios de ovos ou tigeladas das mais doces. “Tão a ver como fizestes?” Ui! Quase um delírio sexual! Que swing! Isto é animação da melhor e roda que ainda mexe. Tal e qual um auto estrada do sucesso ou um stande de carros. Ai, que não aguento!
E pontuação? Para que raio servem aqueles sinais gráficos que nem são fáceis de desenhar? Um ponto de interrogação parece um camarão para pendurar, na parede, cenas tipo mochilas e o outro, o de exclamação, está-se mesmo a ver que tem serventia para varrer pois é uma vassoura de pernas para o ar.
“Queres comer aqui ou ali.” Sem ponto nem nada, até parece que este comer não seja o de nutrir o corpo, mas escrito assim, de modo tão despojado de muletas para o apoiar, cheira mesmo a pornográfico. “Eu gosto tanto de ti?” Será uma interrogação retórica ou um swing mal-intencionado? Ou! A… Ah! Ah?
“Queira vossa senhoria ter em consideração, que este seu servo está a seus pés em profunda vassalagem.” Irra! Até dói de usarem palavras caras.”Por obséquio, o grão será de teor médio para que o odor não se mescle e o palato o absorva no seu âmago.” Ups! Que foi que disse? Ai, o café que entontece e anima.
Será um erro pretender que se use a língua portuguesa, a materna, de forma correcta? Um crime com castigo forte, elevado a um quadrado ou cubo que o fortalece. O facto de alguém se dar ao trabalho de corrigir, é um acto de amor, uma forma precisa de se preocupar; demonstra uma preocupação em melhorar o que ainda está trôpego no seu uso.
Os que se ofendem com tal atitude, além de não admitirem a lacuna, mostram falta de auto-estima, imaturidade e um enorme complexo de inferioridade que, por artes mágicas, se transmuta, em espelho, para altivez e arrogância. São estes, os que se recusam a ver a luz, que se sentem à vontade para humilhar e acidificar as relações, pois estão cheios de si, prontos para insultarem quem os quer ajudar.
Quem sabe não anda a apregoar aos quatro ventos, como se fosse uma mercadoria para vender. Quem sabe, usa esse conhecimento quando é necessário e útil. Aprender é rejuvenescer e crescer com harmonia. Quem se senta no alto, corre o risco de cair com estrondo.
Por mais pedras que me joguem, aviso que já estou imune, continuarei a falar, a corrigir, todas as vezes que forem necessárias. Se me calar, o que é raro, será sinal de que o valor desses que não querem subir no nível do saber, é tão baixo, que nem merecem um mero reparo.
Se não for pedir muito, o dia 25 de Abril assinala a Revolução dos Cravos, umas flores vermelhas e singelas que a D. Celeste ofereceu ao soldado por não ter cigarros. Escravos, palavra ambígua, está num outro contexto. Este dia só foi possível por mostrar a garra dos capitães, plural de capitão. Capitões rima com limões e, curiosamente, com lições.