A automação dos nossos empregos

Uma certeza económica actual é que crescimento gera emprego. Contudo, o desenvolvimento económico actual envolve em boa parte desenvolvimento de tecnologias que dentro de algumas décadas poderão tomar os postos de trabalho de milhões de pessoas. Qual o efeito do desenvolvimento tecnológico de hoje no nosso amanhã?

No século XIX, a Revolução Industrial veio alterar irreversivelmente as economias, não só porque a indústria se tornou uma parte fundamental da produção económica, mas também porque o trabalho foi revolucionado. Muito trabalho que antes era feito manual e lentamente passou a ser automatizado. Contudo, o aumento de produção industrial gerou também muito emprego na área dos serviços, por exemplo no atendimento ao cliente e na contabilidade. No século XXI, o cenário será diferente: a progressiva automação em certos sectores gerará desemprego, visto que computadores e robots virão substituir e melhorar o trabalho previamente realizado por humanos.

O primeiro sector afectado por esta mudança foi o da indústria, já no século XX. Actualmente, podemos observar no nosso dia-a-dia os sectores que serão os próximos a ser revolucionados pela automatização: as caixas automáticas nos supermercados substituem os empregados de caixa; os computadores em certos restaurantes que tomam os pedidos e o pagamento dos clientes, substituindo empregados de atendimento ao público; as lojas online e sites de planeamento de viagens que substituem o trabalho de atendimento físico em lojas e agências de viagens. Mesmo o sector financeiro, cujos empregos tendem a requerer um elevado nível de flexibilidade e de trabalho intelectual, está a ser rapidamente automatizado, já com situações de corretores de bolsa virtuais a trabalharem mais eficazmente do que corretores humanos.

Um factor-chave para a mais fácil automação de uma profissão é a quantidade de trabalho repetitivo previsível que compõe as suas actividades ― por essa razão é que o atendimento ao público é facilmente automatizado. Outro aspecto a considerar é o nível de formação que um certo trabalho requer ― quanto mais elevado o nível de educação requerido, mais difícil se torna de automatizar. Para além destes factores, profissões que envolvem muito contacto humano e em que este é essencial estarão também mais protegidas da automatização no futuro.

As profissões menos susceptíveis de serem automatizadas num futuro próximo tendem a implicar trabalho criativo e específico e que envolve muitas tomadas de decisão, tais como os empregos na área da programação de computadores, medicina, marketing e educação. Este tipo de actividades é relativamente imprevisível e implica muito trabalho intelectual, o que dificulta o reconhecimento de padrões de actividade que um computador consiga reproduzir eficazmente.

Alguns passos podem ser tomados para limitar o efeito destas mudanças próximas na sociedade, nomeadamente ao nível da educação dos indivíduos e dos seus rendimentos. Quanto à educação, seria desejável investir na formação dos jovens em novas tecnologias, incluindo em programação de computadores, capacidade que será cada vez mais valorizada no mercado de trabalho. Ao nível dos rendimentos, é expectável que uma boa parte da população, principalmente os grupos menos qualificados, perca o emprego e não consiga facilmente voltar a competir no mercado de trabalho. Face a esta realidade, a atribuição de um rendimento básico universal poderia ser uma solução, pois permitiria o sustento das pessoas desempregadas tanto nas despesas do dia-a-dia como no investimento em nova formação.

A progressiva automação do trabalho é uma realidade que necessita de respostas o quanto mais cedo possível, e se os jovens facilmente se adaptarão a ela, os mais velhos terão de se adaptar por si mesmos, trabalhando para compreender melhor as novas tecnologias e utilizando-as para exponenciar o seu valor profissional humano.

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