Anatomy of a Scandal

O timing da estreia da série não poderia ser melhor, é uma adaptação de um livro, cheia de estrelas, mas que roça o humor, numa série da Netflix que continua a moda de histórias sobre escândalos sexuais no meio da riqueza e do poder de Inglaterra. É rebuscado, por vezes até um pouco confuso, mas acompanha a vida de Sofia Whitehouse (Sienna Miller), casada com o desejável ministro James Whitehouse (Rupert Friend), e acompanha o escândalo que o título nos traz.

É uma série com duas linhas temporais distintas, e com ainda mais histórias para contar, tanto ao nível político como do tribunal, onde encontramos a advogada de acusação com segredos a esconder, Kate Woodcrof (Michelle Dockery). E sobre a qual é muito difícil escrever sem spoilar demasiado, portanto fico-me por aquilo que conseguimos perceber facilmente pelo trailer: James é acusado de violação.

E a partir deste ponto, acompanhamos James e Sophie a lidarem com a implosão da sua vida familiar aparentemente perfeita, enquanto que Kate, que é uma clara workaholic, lida com o maior caso da sua carreira e o impacto que este caso tem na sua vida pessoal. Mas ainda nos falta um pormenor importante, a acusação de violação parte da amante, e também membro da equipa, de James e acontece no Parlamento Inglês.

No final do primeiro episódio, quando James recebe a sua acusação, um agressor invisível dá-lhe um murro no estômago e ele acaba por subir com a força do impacto, para depois cair sem cerimónia – o que não mostra na cena, mas que fica na cabeça da audiência, é que a sua queda é aparatosa e que cai desamparado. No entanto, até àquele instante o tom da série era pesado e até mesmo negro, o que é previsível tendo em conta o assunto da série, mas daqui para a frente, este toque de profundo surrealismo mina o resto da série.

Mas o improvável não termina neste ponto, o diálogo é inacreditavelmente forçado, as reviravoltas não são possíveis na vida real, e muito provavelmente também não o seriam num universo paralelo, e frases como “Boys will be boys” ainda são utilizadas. E para alguns de nós, esta série vai-nos deixar tontos, com cenas em que o teto e o chão estão invertidos, em que os vidros são usados como pontos de simetria e com muito poucas cenas gravadas num ângulo não torcido.

Agora confesso, apesar de tudo isto, vi os seis episódios quase de uma assentada, porque é difícil não nos sentirmos colados ao ecrã, ansiosos por reviravolta atrás de reviravolta e porque de vez em quando, existe uma cena que nos faz ter esperança na mudança de rumo da série, principalmente quando a fabulosa Michelle Dockery partilha o ecrã com o talento de Sienna Miller. O grande problema com esta série é que todo o seu potencial e, apesar do esforço do elenco incrível, o final deixa-nos sem resposta ao grande objetivo da série, e que Kate Woodcrof tanto proclama, descobrir a verdade.

Nota: este artigo foi escrito seguindo as regras do Novo Acordo Ortográfico
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