José Saramago

O único Nobel da Literatura Português da nossa história, que só começou a escrever de forma independente, isto é, a dedicar-se a 100% à escrita para a sua “sobrevivência” financeira, aos 50 e poucos anos. Um escritor polémico, conhecido pela subversão que fez às regras gramaticais, com o seu uso «diminuto» da língua, usando apenas a vírgula e o ponto, que afirma serem “as duas sinalefas que pautam uma melodia: uma pausa curta e uma pausa mais demorada”. Usa isso de forma a tornar o discurso da narrativa mais oral e próximo, mais próprio da relação que cria, ou que se deve criar, entre o escritor e o leitor.
Subdirector do Diário de Notícias, serralheiro mecânico, foi muito criticado pela sua obra Evangelho Segundo Jesus Cristo, pela caricatura que faz à Bíblia, na maneira como põe a descoberto – de forma surpreendente para alguns – as calamidades que se conta nesse ícone religioso, adjectivando-a, inclusive, como “um manual de maus costumes”.
José Saramago foi um visionário, na forma audaz e directa como expressava as suas opiniões; era sempre fiel às metáforas, no tentar, como já aqui foi referido, aproximar o admirador (da obra) do criador, numa diminuição (ou eliminação) cuidada e assertiva do tal “distanciamento poético”, conhecido por uma intervenção política feroz e por frases de cariz reflexivo como “Aquilo que vier a ser meu às mãos me há de vir ter” ou “Provavelmente tenho tudo porque nunca quis nada”. Um escritor conhecido pelas epígrafes de ordem intelectual e de requinte acentuado que anexa aos seus livros, destacando-se duas de ordem máxima: “Se podes olhar vê; se podes ver repara” (do livro Ensaio sobre a Cegueira); e “O caos é uma ordem por decifrar” (do livro O Homem Duplicado).
José Saramago é o mestre da nossa literatura, a par de Fernando Pessoa e para alguns até de Luís de Camões. Reinventou um estilo, uma narrativa própria, um caminho rumo à lucidez. Um escritor que se superou e que durante uns vinte anos não escreveu qualquer livro, pois afirmava “não ter nada para dizer”.
Enquanto que alguns escritores têm uma ou duas obras-primas, José de Sousa Saramago tem uma dúzia delas. Nasceu na Azinhaga, no Ribatejo, tendo ganho — importa frisar — em 1995, o Prémio Camões, o mais importante prémio literário da língua portuguesa.
José Saramago deixa-nos uma lição: se formos realmente bons, o sucesso há de nos vir bater à porta. Basta esperar pela nossa vez, ou fazer da circunstância uma oportunidade. Todos os dias da nossa vida, como se fossem os últimos.
Obrigado, José Saramago, pela herança intelectual que nos deixaste.
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