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Guia para ser adulto (versão 2022)

Duas décadas e dois anos em pleno século XXI, o século que todos pensavam que se seria o século dourado e muitos motivos haviam para se pensar nisso. Tudo é, em teoria, acessível a todos. Afinal os meios tecnológicos e o avanço científico são tais que só o império da racionalidade e do conhecimento verificável se imporiam ante tudo. Na aldeia global, a paz e a cooperação seriam a regra para a comunidade mundial.

Nasci após a queda do muro de Berlim e no ano em que a União Soviética se extinguiu. A Guerra Fria ficara para trás e, aparentemente, tudo caminhava para um futuro sem profundas divisões ideológicas que antagonizassem o mundo novamente. Os grandes problemas passavam pelo desenvolvimento de regiões pobres e das alterações climáticas.

Vivemos num período sem igual na nossa História, com um elevado desenvolvimento tecnológico, económico e científico, onde o acesso à informação nunca esteve tão amplamente distribuído. Poderíamos pensar que ser adulto numa sociedade destas seria algo que os antigos apenas imaginariam como uma utopia.

O mundo continua dividido e a pax americana não consegue impedir que guerras se propaguem; o desenvolvimento tecnológico fez-nos mais dependentes e aprofundou discrepâncias sociais, entre quem tem acesso e não tem acesso aos meios tecnológicos. Aliás, a posse de determinadas marcas tecnológicas é, por si, um distintivo social. A promessa da libertação tecnológica veio mostrar-se numa verdadeira dependência, na qual continuamos à mercê de ataques vindos.

Por outro lado, temos a geração mais bem preparada, ou seja, com uma escolaridade superior à das gerações anteriores, mas continuamos a escolher acreditar em informações rápidas, muitas das quais sem credibilidade, porque o que importa o que sentimos diante de determinado assunto. Se é verdade, meia-verdade, ou verdade e meia são apenas detalhes. Está publicado nas redes sociais, já tem o selo de autenticidade.

Queremos um mundo melhor, sem guerras e, até ficamos sensibilizados com a guerra na Ucrânia, mas continuamos a ignorar as guerras noutras partes do mundo, como na Síria, Palestina, Etiópia ou Iémen. Talvez porque estejam longe demais e sem efeitos diretos nos combustíveis. Queremos um ambiente imaculado, mas sem que isso nos prejudique nas contas da luz ou no preço dos combustíveis.

Ser adulto em pleno século XXI, onde nada para e estamos constantemente submetidos a intensos estímulos que nos puxam para várias direções, é conviver com o contraditório de forma mais natural possível. Todos somos iguais, mas uns são mais iguais do que outros, como disse Orwell na Revolução dos Bichos; recebemos de braços abertos (e muito bem!) refugiados ucranianos, mas não temos mais espaço para os refugiados iraquianos; lutamos por uma descabornização da nossa sociedade, mas não nos aumentem os preços dos combustíveis! É defender o ambiente e os pressupostos minimalistas e, ao mesmo tempo, comprar o novo gadget que saiu.

Nota: este artigo foi escrito seguindo as regras do Novo Acordo Ortográfico
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“- És um comunicador nato!” – Não! Nem eu, nem ninguém.

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