És da equipa que defende o inatismo e talento ou da equipa que aposta no trabalho árduo e consistente?
Mesmo que fujas desta polarização de perspetivas e que acredites que uma pitada de talento e trabalho se traduz em resultados, há uma série de mitos que carregamos inconscientemente, e através dos quais avaliamos competências alheias (e nossas): “nasceu para cantar”, “é super criativo desde pequenino”, “não tem jeitinho nenhum para isto”…
Um dos maiores mitos diz respeito à comunicação, sobretudo, na esfera do public speaking: “É um comunicador nato”. Será que é mesmo?
A comunicação é uma dinâmica intra e interpessoal que torna comum uma mensagem, o “eu” e o(s) “outro(s)”. Nos dias de hoje é cunhada como soft skill, uma competência basilar cada vez mais valorizada no trabalho, na parentalidade e nas relações pessoais.
Uma comunicação flexível e eficaz requer interagir com diversas pessoas em diferentes contextos, discutir e respeitar factos e opiniões e sobretudo, ter consciência de quem se é enquanto comunicador. Sei escutar? Sou claro consoante o público e propósito? Responsabilizo-me pelas minhas (re)ações? Convenhamos que ninguém nasce com este “pacote completo”.
Ainda que se admita que há pessoas com um “perfil mais comunicativo”, na verdade, a comunicação não é um dom: treina-se, pratica-se e aprimora-se. E rapidamente me lembro de dois oradores distintos no estilo e no seu percurso enquanto discursantes: Barack Obama e Steve Jobs.
Barack Obama é o pináculo do político moderno e de um orador com quem estabelecemos empatia imediata. Se pesquisarmos pelos discursos ainda como senador e jovem advogado, a sua confiança, as pausas no discurso, a gesticulação e o poder de argumentação já eram evidentes. Teria muitos aspetos para melhorar? Talvez não! Contudo, investiu continuamente na sua comunicação e tornou-a numa das armas que o elegeu como Presidente dos Estados Unidos da América.
Steve Jobs tem discursos com milhões de visualizações em que facilmente “vende um estilo de vida” e não um mero gadget ou em que nos motiva a ser a nossa melhor versão (humana e não do iPhone). Todavia, se pesquisarmos pelas primeiras entrevistas e discursos, encontramos um Steve Jobs com um discurso pouco fluente e nada atrativo. Não foi a repetição de discursos per se que o levou a tornar-se o speaker de que temos memória. Foram estratégias montadas por uma equipa que alavancou a forma de comunicar a sua visão e valores e claro, vender muito!
Apesar de marcas pessoais distintas, o que têm ambos em comum? Terem compreendido que a comunicação é uma oportunidade e não uma barreira!
Se é possível melhorar a forma como interagimos, quantas mais oportunidades vamos perder por receio de comunicar? Então, rebobinando a cassete, lamento, puxando a a smartbox para trás:
- Pensa em como comunicas no dia a dia (ouve áudios, filma-te) e analisa quais são os teus pontos fortes (não os negativos) e de melhoria;
- Estabelece um objetivo conciso e claro para a tua comunicação;
- Pede feedback a pessoas de confiança que te sugiram pontos de evolução;
- Procura mentores, trainers que te ajudem e inspirem;
- Confia que és capaz (isso também se treina), aceita convites e oportunidades para discursar ou simplesmente “não fujas daquela conversa”;
- Aprende e aplica técnicas de acordo com a audiência que tens pela frente;
- Treina, treina, treina e sempre que possível, treina;
- Descobre o teu estilo pessoal e revela a tua autenticidade.
Ainda me lembro das chamadas ao quadro que correram menos bem e que limitaram a minha confiança e paixão por discursos. No entanto, prefiro visualizar uma próxima geração de alunos a “irem ao quadro” argumentar e partilhar os seus pensamentos sem o peso de um mito ou de uma crença limitante. Isso depende do nosso exemplo e da inexistência de “julgamentos” porque todos temos potencial para comunicar (melhor). E todos temos mais a ganhar do que a perder com isso.