De mãos dadas, um neto passeia o avô no jardim. Uma mão pequenina que guia as rugas da experiência numa nova oportunidade de juventude, de imortalidade. As suas sombras duplicam-se numa poça de chuva e o sol parece tocá-las.
Curiosidade. Eu cruzo os braços e as pernas, como se fosse uma permissão para observar mais confortavelmente a vida dos outros.
O menino fala com o avô, perguntas simples daquelas que ninguém se lembra. Num gesto de carinho, o avô aperta aquela mãozinha que vê nele segurança e responde-lhe como só os avós se lembram de responder, porque era no tempo deles que havia tempo para o que era simples e necessário. A escravidão do tempo era diferente; não era escravidão, era apenas serventia. Durante o dia contava-se mais do que aquilo que marcava os ponteiros.
Sentados num banco do jardim, o menino ri-se com histórias que o avô lhe conta. Baixinho, com a cabeça quase colada à do neto, como se fosse um segredo. Olha nos olhos da criança como se tivessem a mesma altura e partilham brincadeiras e piadas que conhecem os dois porque são os dois meninos. O avô aponta para os pássaros e para os patos e para as árvores, e o neto acena vigorosamente como se compreendesse tudo, os olhos muito abertos, espantado ante todos aqueles mistérios do mundo que se estão a desvendar.
Descruzo as pernas. Encantamento, é o que sinto. Como se tivesse descoberto a magia.
Nesse momento, oiço passos rápidos que passam por mim e adivinho a aflição. Reparo na cara desfigurada pela preocupação, o som dos saltos que correm os metros que a separam do filho. Quando olho, o menino sozinho no banco espera pela mãe. Ela abraça-o com força, quer conseguir colocá-lo a salvo dentro dela, dentro do coração ou da sua barriga de mãe. Toca-lhe na cara para sentir que ele é real.
Depois faz-lhe perguntas preocupadas: “onde estiveste?” “com quem estiveste?”
O menino responde com um encolher de braços: “com o avô!” o tom de voz mostra que é óbvio, que não entende a interrogação no olhar da mãe.
“Amor, o avô está no céu…” a mãe engole em seco.
Para o menino é natural: “Sim, mas às vezes passeamos juntos.”
A mãe abraça-o, perdida. Não sabe o que responder àquele menino que sabe mais que ela. Treme num arrepio. Ainda não descobriu que o amor é maior do que todas essas convenções e limites que ela conhece.
Eu levanto-me. Já vi demais. Sem dúvida: encantamento, é o que sinto. Como no dia em que descobri a magia.
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