A piada da competitividade escolar

Como o padeiro começa a fazer o pão de madrugada para ter as fornalhas prontas de manhã, trago-vos os já (não) novos resultados dos rankings das escolas 2018. Quero antes apontar para um delicioso detalhe: já se fazem ranking às escolas há vinte anos e ainda não traduziram a palavra (i.e., classificação).

Numa rápida leitura do dito ‘ranking’ das escolas secundárias, pode-se verificar que as primeiras escolas públicas que surgem estão no 33º e 34º posições. Estas duas escolas públicas contam com uma média de cerca de 12,50 valores. Estas duas escolas situam-se em Coimbra e no Porto, respectivamente. No topo da lista, ocupando a 1ª e 2ª posição estão duas escolas privadas com médias entre os 14 e 15 valores e estas escolas privadas situam-se no Porto e em Coimbra, respectivamente. No fundo da tabela, temos um externato privado no Porto que soma 6,65 valores de média e uma escola pública da Moita que conta com uma média de 7,31 valores. Estas escolas figuram o 585º e 584º lugares.

Antes de atiçarmos os cães aos professores, estudantes e pais, devem-se ter em conta que existam factores socioeconómicos que são em grande parte os responsáveis por estes resultados de ‘fim de tabela’. Estes contextos encontram-se divididos em três categorias:

  • Contexto 1: escolas com valores mais desfavoráveis nas duas variáveis de contexto (pais menos escolarizados e mais alunos abrangidos por apoios do Estado).
  • Contexto 2: com valores intermédios (menos jovens abrangidos pela Acção Social Escolar do que no contexto 1 e pais mais escolarizados).
  • Contexto 3: escolas com valores mais favoráveis nas duas variáveis.’[1].

A necessidade de uma constante hierarquização do sistema de ensino só pode ser justificável pelo lucro. Enquanto que as escolas privadas lutam por isso, as públicas lutam por sobreviver. O rácio de ordenado, tipo de contratação (e consequente dedicação) de um professor do ensino privado em comparação com um professor do ensino público é, no mínimo, cruel. Surgiu já em 2015 a questão da inflação das notas dos alunos das escolas privadas em prol do bem dito ranking. Este método de hierarquização do ensino não é só prejudicial para os próprios alunos, mas também para as famílias e professores. Começou a existir uma pressão social para os alunos com os conhecidos ‘Quadro de Honra’.

A questão que se impõe é esta – a do direito à educação. Estamos perante uma questão de equidade, que vai muito para alguém da questão de igualdade. O poder económico não deve ditar o sucesso ou insucesso de um aluno. Nunca uma escola deve competir com outras, mas sim existir uma espécie de entreajuda entre elas. E isto não pode ser uma utopia, mas sim um direito aplicado.

[1] In ‘Como fazemos os rankings?’, Público, 16 de Fevereiro de 2019
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