Na vanguarda da História, a França tem sido um dos grandes motores da mudança social na Europa. O lema “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, usado na Revolução Francesa, correu o mundo, tornando-se na base da sociedade contemporânea. Alicerçados por estes ideais, a democracia, pouco a pouco, foi ganhando espaço na Europa, propondo uma nova forma de estar onde todos são iguais, independentemente das diferenças. Contudo, o país que sempre deu o rosto pela mudança parece esquecer o lema que originou a sua sociedade, quando o tema são os direitos dos homossexuais.
Maio de 2013 representou um marco para a sociedade francesa. O Presidente francês, François Hollande, promulgou uma lei que permite a adopção de crianças e o casamento entre casais homossexuais, depois de seis longos meses de discussão. Com esta medida, a França tornou-se o nono país no mundo a aprovar o casamento gay, mas a revolta e fúria, junto da sociedade francesa, especialmente nos grupos de extrema-direita, tem manchado este feito histórico. Mais de 150 mil pessoas saíram às ruas em protesto, numa manifestação que ficou marcada pelos confrontos violentos com a polícia.

Duas semanas depois da promulgação da lei, o primeiro casamento gay na França foi celebrado sob um forte dispositivo de segurança. A fim de garantir a segurança do casamento, cerca de 200 oficiais, de acordo com o jornal francês Le Figaro, foram destacados, numa cerimónia onde marcaram presença a porta-voz do governo e ministra dos direitos das mulheres, Najat Vallaud-Belkacem e a presidente da câmara de Montpellier, Helene Mandroux.
Junto da comunidade homossexual, esta lei foi recebida com aplausos e como uma conquista para a sociedade francesa, que só agora se tornou verdadeiramente livre e igual. “Quando as crianças francesas nascem, elas nascem com os mesmos direitos que todo mundo, mas a partir do momento em que se diz que é um homossexual, a sociedade priva-te de alguns direitos. Hoje a França nos devolveu esses direitos e colocou um fim à discriminação institucional”, afirmou Vincent Austin, um dos noivos e activista do movimento gay, em entrevista exclusiva à CNN.
Embora numa sondagem divulgada pela BVA, em Janeiro, cerca de 63% dos franceses se tenha declarado a favor do casamento, as opiniões divergentes reflectem, mais uma vez, o pensamento do mundo. A luta pelos direitos dos homossexuais continua a ser um tema que divide a opinião pública mundial, que ainda vive segundo valores tradicionalistas.
Em países como a Rússia, onde o governo toma claramente uma posição contra a homossexualidade, a igualdade continua uma utopia. Porém, a mudança, que alguns sectores da sociedade querem evitar a todo, parece cada vez mais inevitável no contexto em que vivemos, um mundo onde a capacidade de adaptação às nova realidades é essencial.
Num discurso político, para a Assembleia Nacional, Jean-Marc Ayrault, primeiro-ministro francês, declarou que “a nossa sociedade evolui, os estilos de vida e as mentalidades mudam. Aspirações novas afirmam-se”. Ainda que a resistência seja sempre a primeira resposta, a mudança social tem vontade própria e contra ela pouco se pode fazer.