Aquele cantinho, do outro lado do mundo. No país tropical. Recife, a capital do estado de Pernambuco. Município de Jaboatão do Guararapes. Nordeste Brasileiro.
Pensar no Brasil é pensarmos em calor, praia, muito sol, água de coco, biquínis… Sim, é mesmo assim.
Imagina um sítio onde o Inverno consegue ser aconchegado com um simples casaquinho de malha. Consegues? É este cantinho, Recife é assim.
Pisar neste cantinho de solo nordestino é depararmo-nos com uma realidade diferente. É constatar que estamos realmente do outro lado do mundo. É uma viagem que nos remete às telenovelas que assistíamos ou assistimos e que consegue – apesar das diferenças – nos fazer sentir em casa.
À saída do aeroporto internacional de Recife – Guararapes, conseguimos entender os tantos protestos do povo brasileiro, na luta por um país melhor e com mais verdade e honestidade. As ruas e estradas que precisam de melhorias. A evolução realmente necessária na Saúde e Educação. A melhoria na segurança, fundamental para garantir a integridade física das pessoas, e alguma reeducação em alguns conceitos básicos, nomeadamente o lixo que é depositado nas ruas.
No entanto, a riqueza deste cantinho, do outro lado do mundo, é fenomenal. A fruta tropical – desde a manga, ao mamão, ao coco e a sua água, passando pelos diversos tipos de banana, até à goiaba – ai, ai, até cresce água na boca! A tapioca, o açaí, o cuscuz, o feijão – sempre muito presente na alimentação diária – os quiabos e tantos outros alimentos de natureza tão pura, que alguns deles crescem nas árvores envolventes da região.
Passear no mercado de S. José, localizado no bairro de S. José, é vivenciar muita coisa. É ver plantas e ervas frescas a serem vendidas e que muitas delas até o nome nos é desconhecido. É, em pleno Verão, sentir o calor, do tempo – realmente quente – e das pessoas.
Passear junto das praias, é maravilhoso. Aquela água quente, limpa e sempre apetecível para um mergulho.
O amanhecer acontece bem cedo, naquele cantinho, do outro lado do mundo. Os passeios no calçadão sabem melhor pela fresca da manhã. E são muitos os que o fazem.
As pessoas, afáveis e de sorriso fácil, sempre com samba no pé. Tudo serve como pretexto de festa – e que boas festas eles sabem fazer – e onde nos podemos verdadeiramente inspirar.
Apesar das diversas dificuldades que muitos vão enfrentando – em alguns casos são verdadeiras dificuldades, quando comparadas com alguns “caprichos” nossos – sorriem, dançam, cantam e repetem muitas vezes “se não tiver galinha para comer, feijão comemos de certeza!” E há sempre prato para mais um. Dá que pensar…
São povo de verdadeira Fé. Acreditam antes de ver. Sabem que a força reside não somente neles, mas em algo bem superior e que se não der para “vender coxinhas na praça” , vendem pirolitos, frango, pizzas, garrafas de água, o que tiver de ser para conseguirem levar a vida para a frente.
Às nossas crianças – tantas vezes demasiadamente protegidas – pedimos que se calcem, que tenham cuidado com isto e aquilo. Naquele cantinho, do outro lado do mundo, pisar o chão de pé descalço é a palavra de ordem. São felizes com coisas simples. Muitas crianças não conhecem a realidade de brinquedos que não usados, de roupas que não já usadas e de calçado dado. Mas sorriem. Mesmo que a banheira seja substituída por um balde plástico.
Porque estão juntos. Porque quem se juntar à festa é sempre bem-vindo. Porque protestam e clamam por um país melhor. Com menos corrupção. Mais justiça. Mais saúde. Melhores infraestruturas. Melhor educação. Contudo, o dia-a-dia eles vão levando, apesar das dificuldades, sem nunca desistir. O samba – que lhes corre nas veias – mostra-nos a alegria de que são portadores. A Fé – que se vê espalhada em muitos e diversos cantinhos pela região– mostra-nos a essência que os faz andar para a frente e lutar.
Viajar para o outro lado do mundo pode bem ser uma viajem para dentro de nós próprios. De lá trazemos a simplicidade, a humildade e a serenidade que tantas vezes precisamos. Ainda que estejamos à frente em alguns aspetos, noutros ficamos a desejar. Muitas vezes, menos é mais! Ficamos a (re)pensar no verdadeiro significado da Vida e da importância – ou não – que damos às coisas.