Revi o “Love Actually” e só isso me fez sentir que estamos em dezembro. Caso contrário, o título deste artigo seria “Estamos mesmo a quantos de março?”. A sério, já estava escrito e tudo. Mas, pronto, uma borboleta bateu as asas e esse título voou para longe. Assim, resta-me dar-vos as boas-vindas à última crónica sombria do ano. Um artigo que, como tudo o que nos envolve por esta altura, se assemelha às zonas de chegadas e partidas dos aeroportos. Sim, às duas. Dizem que vem aí esperança a caminho e que parte da tristeza irá embora. Tal qual as cenas passadas no aeroporto, no início e no fim do “Love Actually”.
Cá a mim, dá-me sempre vontade de chorar no meio do aeroporto, quer esteja a chegar ou a partir. Com o passar dos anos, controlo-me melhor. Mas, ainda assim, há um aperto no estômago e um nó na garganta que não passam.
Certa vez, assisti à despedida de uma irmã e de um irmão. Enquanto ela chorava copiosamente agarrada ao pai, o rapaz seguia para a porta de embarque e acenava, sem olhar para trás. Na minha cabeça, aquela falta de coragem para encarar a tristeza que deixava só podia indicar uma coisa: o rapaz ia para a guerra.
(Bem, o mais certo é que não fosse. Mas aquilo foi tudo muito dramático.)
Tempos mais tarde, vi uma mulher com um bebé ao colo e muitas malas à volta. A criança não parava de chorar. Por isso, a senhora foi caminhar um pouco, abanando o (provavelmente) recém-nascido. Depressa chegaram os polícias e avisaram que as malas não podiam estar ali abandonadas no meio do aeroporto. Quis dizer àquela mulher que não estava sozinha com a sua bagagem, mas não disse. Afinal de contas, era um aeroporto e lá não se pode confiar em ninguém.
Até hoje, também já eu tive o meu quinhão de partidas sem ninguém ao meu lado e já vi partir, comigo a ficar cada vez mais longe. Já cheguei para receber um abraço adiado e já voltei com uma só vontade: dormir, depois de ver que os meus estavam bem. Afinal de contas, um aeroporto é igualmente o espaço fora das nossas casas onde encontramos mais amor por metro quadrado.
https://www.youtube.com/watch?v=bo2jKvUP_bk
E isso implica que, ali, em cada “bem-vindo”, haja também um “adeus” ao que se deixou. Ao que se amou e ao que se construiu. Por isso, para mim, os aeroportos são eternamente espaços de despedida, mesmo à chegada. E isso tem tanto de bonito como de doloroso.
Adeus. Volto a escrever-vos em 2021.