Coisas que o vento me conta

Só sei que a praia está deserta. E que o vento me sussurra coisas que não sei se estou, ainda, preparada para ouvir. O tempo passa. O tempo passou, demasiado rápido. A incerteza é a certeza do que não sei sobre o que está ainda por vir.

Fecho os olhos e sinto o mar em harmonia de sal. De que forma se mantém a fé, o enraizamento? De que maneira se poderá estar certo de que as eventualidades dos acasos (que nunca acreditei serem acasos) poderão, de alguma forma, ser diferentes?

A realidade é tão diferente da minha, que nem soube apreciar em tempos e, agora, oferecem-me avaliações no centro da testa, olhos tristes e escondidos, metamorfoses expressas nesses olhos que, desconfio, tal como os meus também não querem ver.

Não existem certezas de nada. Só a convicção de que a passada tem de ser firme, segura e de que agora, mais do que nunca, tudo o que sabemos sobre o que nos faz bem, tem de ser utilizado.

O tempo passa. O tempo passou. Olho-me por dentro, espelho de mim própria, em questionamento sobre qual a direcção que se segue. Para onde vou. Se o caminho onde estou, agora, faz sentido com todas as escolhas que anteriormente tomei. Se estar aqui, sentada na areia da praia, seria o suposto neste exacto e preciso momento.

Quando me apercebo, a praia já não está deserta. Em destreza certa, outras pessoas chegam, inseguras no caminhar e no olhar, incertas do que poderá vir a seguir. Apercebo-me. Que as incertezas também são segurança. Que está tudo bem. Que não há problema de ter medo porque, ao olhá-lo de frente, ele revela-se como o coelho branco que o mágico tira da cartola.

Agora, que vejo os outros, entendo que com eles e como eles, posso entrar em mundos que nunca me atreveria em lhes abrir portas. Que somos todos alheios e estranhos em terra santa. Que a estranha realidade é que estamos sempre a morrer e a renascer em vida, células, corpo, memórias, decisões e abandonos.

Julgo que nos olhos dos que se passeiam na praia, da mesma forma que me passeio agora, se revelam dores que são tão profundas que disfarçam com outras dores, mesmo que sejam inventadas. Os cansaços podem ser, por vezes, quebrados em outros prantos.

Tento, por isso, despedir-me do significado das palavras. De tudo o que acho que aconteceu que poderá acontecer novamente, do todo que ressignifico sempre da mesma maneira, baseada no que já vivi.

Entendo que o importante é sentir. Sentir cada brisa, cada cheiro, cada olhar e voz que me fala. As incertezas das passadas firmes que dou, neste preciso momento.

Que a maior beleza de tudo é, por vezes, não ter certezas de nada.

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