Tantos passos que deste sozinha pelo mundo.
Tantos passos perdidos, porque na realidade nunca saíste do teu mundo. Andaste sempre perdida nas teias da solidão. Davas um passo para a frente e dois para trás. A tua fé tinha terminado e a esperança andava adormecida. Tudo em ti era terra ressequida onde os teus pés pisavam as dores de quem olhava em redor e não via ninguém.
Estavas no meio da multidão e apesar disso vivias em solidão.
Vagueavas sozinha por esses trilhos onde o pensamento se perdia e todos os dias caias no labirinto do sofrimento.
Eu sei bem como é!
Eu também já me obriguei a viver nessa mesma solidão consentida de quem quer fugir de tudo o que lhe pertence. Também caminhei nesse virar de costas para não olhar de frente para a vida.
Às vezes, até é bom porque acordamos com a ilusão de que somos fortes e nada nos irá atingir. Mas, na maioria das noites, as lembranças visitam as nossas insónias e tudo começa a ruir. Tudo volta de novo para o coração que não sabe deixar de sentir.
A solidão mostra-nos a frieza imensa que existe numa cama vazia. E é aí que o coração começa a desenhar sonhos, a colorir futuros que só existirão se nos permitirmos a deixar tudo para trás e tivermos coragem de sermos quem somos. Se a fé for nossa companheira e não tivermos medo de bater com as portas que precisam de ser fechadas.
O mundo não é o nosso quarto, estas quatro paredes onde fechamos os nossos sentimentos para que eles não saiam todos os dias para a rua.
É tempo de tirar a máscara com que todos os dias saímos para a rua. Não somos esse ser frio de sentimentos que sorri para todos e, ao mesmo tempo, chora por dentro. Fugir da realidade nunca nos levará à felicidade.
Tu sabes, que o amor anda no ar. Que o amor são esses dois olhos verdes que te sorriem. Que o amor é esse olhar que te chama. Que o amor te mostra o caminho para casa.
Então, porque continuas a fugir? Porque te escondes cada vez mais longe, quando sabes que o amor sempre te vai encontrar? O amor conhece todos os becos que tu julgas sem saída. Tu foges dele, mas ele sempre te irá agarrar, portanto é hora de baixares os braços. É tempo de cederes ao que sentes. O amor não é um bicho papão, o amor é mais forte do que a razão.
Fecha as portas ao passado. As histórias coloridas de desgostos que carregas contigo, essas lembranças já descoloridas com cheiro a sentimentos passados que teimas em não tirar da tua bagagem, já estão demasiado envelhecidas e tu precisas de algo novo na tua vida. É por teres todo esse peso sobre os ombros que não tens asas para continuar a fazer essa viagem à volta do mundo. Hoje já não és mais do que uma capa esfarrapada pelo tempo com que tentas encobrir o verdadeiro amor que encontraste pelo caminho.
Pára de te negar. O teu corpo já não sabe viver sem esse amor. O teu corpo tem sede de amar e só tu não queres aceitar essa realidade.
Sim, se o amor te encontrou naquela encruzilhada onde os sofrimentos ficam nus e os sentimentos se vestem com as vestes do amor, é porque a vida vos quer juntos. Se, se olharam de improviso, naquele cruzamento em que a ousadia de deixar o coração sentir nos dá coragem para continuarmos a viver e a desenhar sonhos em que tudo aparece como gostaríamos que acontecesse, é porque existe um futuro que vos pertence.
Vai o amor está à tua espera, não te quer aqui sozinha nesta rua colorida e em que tudo o que te falta é o brilho de um olhar atrevido que te quer conquistar. Não fique aqui a desesperar quando do outro lado da rua alguém ouve o teu coração e sabe que ele tem sede de amar.