O futuro da Vida na Terra: entre a esperança e os desafios

Vivemos num planeta que já enfrentou incontáveis desafios e transformações ao longo da sua história. A extinção, uma força implacável da natureza, eliminou inúmeras formas de vida da Terra, mas esta sempre encontrou maneiras de ressurgir, adaptando-se e evoluindo. Hoje enfrentamos um novo tipo de ameaça, uma que nós próprios criámos: a iminente destruição da vida tal como a conhecemos, não pela natureza, mas pelas ações da mão humana.

A obsessão pelo lucro, que outrora parecia ser o motor do progresso, revelou-se, afinal, um beco sem saída. Produzimos em massa, devastamos ecossistemas e, apesar disso, muitos ainda acreditam que o crescimento económico ilimitado é a chave para a prosperidade. Contudo, os sinais são claros e inegáveis: o modelo atual falhou. O que antes parecia ser uma estratégia de sucesso, hoje encaminha-nos para o colapso.

Os cientistas, que estudam tanto o presente quanto o passado da Terra, fazem um alerta: é necessária uma transformação radical na forma como organizamos as nossas economias e sociedades. A pergunta que se coloca é simples, mas urgente: que sistema pode substituir o atual? Que novo modelo poderá garantir não só a sobrevivência, mas também a prosperidade das futuras gerações?

Portugal, apesar de o exemplo vir do estrangeiro, acompanha com interesse a implementação da “Economia Donut” em Amsterdão, na Holanda. Este modelo, que procura equilibrar o bem-estar humano com os limites ecológicos, está a ser considerado por algumas cidades portuguesas como uma referência para futuras políticas públicas.

A “Economia Donut” é um modelo visual que promove o desenvolvimento sustentável, ilustrando aspetos como a saúde, a educação e a equidade podem ser comprometidos quando os limites ecológicos são ultrapassados. O objetivo principal é redefinir os desafios económicos e estabelecer novas metas. Segundo este modelo, uma economia é considerada próspera quando todas as necessidades sociais básicas são atendidas sem esgotar os recursos naturais do planeta ou exceder os limites ecológicos estabelecidos.

Segundo Kate Raworth, é altura de criar um quotidiano mais comunitário, reutilizar e reciclar produtos, permitindo retardar o uso dos recursos naturais, reduzir a perturbação das paisagens e dos habitats, ajudando a limitar a perda de biodiversidade e a conter o consumo desenfreado.

Em Portugal, já existem grupos a discutir este modelo. A economista Kate Raworth foi recentemente convidada a participar, em fevereiro deste ano, na conferência “Alterações Climáticas. Novos Modelos Económicos”, organizada pelo Ministério do Ambiente e da Ação Climática no âmbito da presidência portuguesa do conselho da UE.

Lisboa, por exemplo, já deu alguns passos na direção da sustentabilidade, através da criação de zonas verdes urbanas, promoção do transporte público e implementação de programas de reciclagem e redução de resíduos. Inspirando-se na “Economia Donut”, a cidade poderia expandir estas iniciativas, incorporando metas de justiça social e equilíbrio ecológico nas suas políticas de desenvolvimento urbano.

«A economia circular faz parte das medidas que precisamos de implementar no terreno, de modo a garantir o bem-estar de todos os seres humanos respeitando os limites do nosso planeta», disse a secretária de Estado do Ambiente, na conferência.

Há quem defenda a transição para uma economia mais circular – um modelo de produção e de consumo – que envolve a partilha, a reutilização, o aluguer, a reparação e a reciclagem de materiais − de modo a alargar o ciclo de vida dos produtos, utilizando os recursos de forma sustentável, minimizando o desperdício e preservando os ecossistemas.

Outras pessoas sugerem uma abordagem mais radical, retornando às raízes da economia, colocando o bem-estar das pessoas e do planeta acima do lucro. Este novo paradigma, ainda em construção, poderia basear-se na cooperação, partilha de recursos e respeito pelos limites naturais.

O modelo de economia circular contrasta com o modelo tradicional, assente no princípio “produz-utiliza-deita-fora”. Independentemente da forma que este novo sistema venha a tomar, na minha opinião, o modelo atual, centrado no lucro e no consumo desenfreado, não pode continuar.

A vida na Terra, tal como a conhecemos, depende de uma mudança profunda e imediata. Precisamos de um sistema que valorize a vida em todas as suas formas e que reconheça a interdependência entre os seres humanos e o mundo natural.

Estamos numa encruzilhada, e as escolhas que fizermos agora terão repercussões por milhares ou milhões de anos. A extinção é uma realidade que o planeta já enfrentou antes, mas desta vez temos a oportunidade – e a responsabilidade – de escolher um caminho diferente.

A questão é: estaremos à altura deste desafio?

Nota: Este artigo foi escrito seguindo as regras do Novo Acordo Ortográfico

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Cecília Barreira

Comments 8
  1. Muito pertinente e atual. Temos de passar das palavras à ação. Uma boa economia para mim seria: Produzir – Partilhar-Reutilizar. Um PPR (plano poupança reforma)para o planeta!

    1. Grata pelo teu parecer imprescindível. Seria importante mudar os hábitos, aliás, urgente!

    2. Grata pelo teu parecer imprescindível.
      Seria importante mudar os hábitos, aliás, urgente!

  2. De facto, todos podemos fazer um pouco. O problema é as pessoas não perceberem que o futuro já chegou. Não serão os nossos netos a sofrer. Somos nós que já lutamos com as alterações climáticas, os incêndios, as cheias, as secas…
    Artigo muito pertinente. O assunto precisa de ser sempre, sempre, sempre debatido.
    Parabéns pelo tema.

    1. Muito obrigada, pela tua, sempre, preciosa apreciação, Paula.
      É, de facto, uma verdade nua e crua. Estamos no momento presente e nada percebemos (ou não queremos perceber) das ações a tomar. Prementes!

    2. Como compreendo a tua reflexão, resultado daquela que foi a nossa leitura conjunta . Certamente, será um daqueles livros que não esquecerei tão facilmente. Deixei-o marinar para de vez em quando revisitar. Muito obrigada, Paula.

  3. Geralmente tenho uma visão positiva da vida, nesta infelizmente e talvez porque não dependa somente de quem tem cuidado, não prevejo um bom futuro. Recordo-me das noticias que dizem que os recursos estão esgotados antes sequer do ano terminar e já estamos a usufruir dos que são para o próximo, por exemplo. Enfim, gostei muito minha Beth <3

    1. É, de facto, uma verdade nua e crua que muito nos entristece. Ainda assim, tenho alguma esperança na renovação que se vai fazendo a cada dia, porque ainda hoje uma amiga muito querida disse: a natureza é sábia. Renova-se.” Grata, Diana.

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