Conflito Global – A História repete-se?

Desde fevereiro de 2022, a guerra na Ucrânia tem mostrado uma escalada dramática, conhecendo fases distintas de ofensivas e contraofensivas. Após a invasão inicial, cujo objetivo era capturar Kiev rapidamente, a Rússia concentrou-se no leste e sul do país. A Ucrânia, com apoio militar ocidental, concretizou contraofensivas em Kherson e Kharkiv em 2022. Em 2023 e 2024, o conflito encontra-se num impasse, marcado por guerras de trincheiras e uso intensivo de ‘drones’.

A 20 de novembro de 2024, o presidente russo, Vladimir Putin, afirmou que o uso de armas ocidentais pelas forças ucranianas está a transformar esta guerra num “conflito global”. Admitiu atacar os aliados de Kiev, afirmando: “A partir deste momento, como sublinhámos repetidamente, o conflito na Ucrânia, anteriormente provocado pelo ocidente, adquiriu elementos de caráter global”, num breve discurso ao país.

Putin assume estar preparado para qualquer cenário de guerra, recorrendo, mesmo, ao armamento nuclear após a utilização ucraniana de mísseis de longo alcance provenientes dos Estados Unidos e do Reino Unido. O fôlego do líder russo é perentório: “Se alguém ainda duvida, é inútil”.

O primeiro-ministro polaco, Donald Tusk, não hesita em afirmar o risco de uma escalada da guerra a nível mundial. Em declarações, citadas pela agência Reuters, durante uma conferência de professores, enfatizou que “O conflito está a tomar proporções dramáticas. As últimas doze horas mostraram que a ameaça é séria e real no que diz respeito a um conflito global”. 

Perante esta situação, Volodymyr Zelensky apela a uma reação inequívoca da comunidade internacional. Daí que países como a Grécia, Itália, Espanha e Portugal, vivendo uma espécie de paz precária face ao conflito, no sentido de prevenção, a 20 de novembro, tenham encerrado, temporariamente, as suas embaixadas em Kiev.

É curioso reconhecer aspetos idênticos nos conflitos bélicos ao longo do tempo. As alianças políticas foram fundamentais para o início e desenvolvimento da Primeira Guerra Mundial. Os dois blocos principais — a Tríplice Aliança (Alemanha, Áustria-Hungria e Itália) e a Tríplice ‘Entente’ (França, Rússia e o Reino Unido) — transformaram o assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do trono austro-húngaro, em Sarajevo num conflito global. A lógica de alianças obrigou os países a apoiar os seus parceiros, mesmo em disputas periféricas. Assim, um conflito regional originou uma guerra total.

Nessa época acreditou-se num desfeche rápido. Quando a guerra da Ucrânia rebentou, o sentimento foi idêntico. A realidade, como sabemos, é outra. Uma vez mais, assistimos aos mecanismos das alianças políticas e à sobreposição de interesses políticos e económicos.

Embora a História não se repita literalmente, padrões e desenvolvimentos mostram semelhanças ao longo do tempo. Tal como em conflitos passados, vemos hoje como alianças e interesses económicos podem transformar conflitos locais em crises globais, expondo fragilidades nas instituições internacionais. O que temos aprendido com os vários momentos de tensão entre povos, civilizações ou países? Que esforços reais têm surtido efeito desde a criação da malograda Sociedade das Nações (pós- primeira Guerra) até à Organização das nações Unidas dos nossos dias?

Muito pouco. A evolução tem sido, sem dúvida, a nível tecnológico e no engenho humano em criar métodos cada vez mais rápidos e eficazes de infligir sofrimento no outro. Também convém não esquecer que a ambição do génio humano atravessa os tempos e gera megalómanos empoderados por sistemas políticos antidemocráticos. Será que, como sociedade global, falhamos repetidamente em abordar as raízes destes conflitos e em prevenir a sua eclosão?

Nota: este artigo foi escrito seguindo as regras do Novo Acordo Ortográfico.

Share this article
Shareable URL
Prev Post

Doces memórias à mesa de Natal

Next Post

Ódio nas redes

Comments 3
  1. Artigo muito interessante, Paula. Parabéns!
    A ambição do ser humano tem sido desmedida e, pelo facto de não se preocuparem com o Outro, focando-se única e exclusivamente nos seus intentos, temo que a nossa raça esteja ameaçada.
    Sempre digo, o Homem constrói, o Homem destrói. Nós não nos consciencializamos que não somos donos de coisa alguma. Somos simples passageiros que deambulam até ao final.

  2. Pois, estamos todos expetantes, uma vez que não podemos tomar decisões ou agir. Só podemos denunciar e será que chega aos governos que têm na mão a possibilidade de evitar a guerra? O medo já se instalou pelo centro da Europa e está a chegar a nós.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.

Read next

Xeque-mate?

Chegou o dia em que a Europa e o Mundo assistem a uma transformação que, para o bem e para o mal, poderá vir a…

A escola Trump

"A Escola Trump é algo que é aproveitado por personagens obscuras como Jair Bolsonaro, que tem sido exímio na…

Europa naufragada

A última vez que a Europa esteve perante a uma crise deste género foi no fim da II Guerra Mundial. Naquela…