O que é que fica quando, sem mais nem menos, perdemos família, amigos, casa, animais e o que construímos numa vida? Como é que se fica quando, subitamente, ficamos apenas com a roupa que trazemos no corpo e com as cinzas da desgraça? Onde encontrar esperança quando tudo à nossa volta é destruição? Talvez a resposta esteja na parceria entre a força interior de quem [quase] tudo perdeu e a força interior de quem ajuda a reescrever uma [bonita] história sobre a bondade e a reconstrução da esperança de quem caiu e foi reerguido por uma mão feita de amor incondicional.
Não há como ficar indiferente quando à nossa volta a vida morre. E não há como avaliar a desgraça alheia, senão passando por elas. Mas há, sim, como fazer com que a vida renasça: pela compaixão e pela solidariedade. Afinal, vivemos em comunidade e a vida só faz sentido se houver uma corrente de esperança, ateada pela bondade e pelo sentido de responsabilidade social de cada ser humano, para que, todos juntos, consigamos encontrar no calor do Sol fonte de alegria de viver.
Cada um de nós pode ser uma ferramenta essencial na reparação dessa corrente, quebrada pelo desamparo. Se cada um fizer a sua parte, é possível acreditar. E acreditar é ter esperança. E a esperança permite [re]acender a luz no olhar apagado pela escuridão.
Porque todos os dias precisamos de nos alimentar, de dormir, de ter cuidados de higiene e de saúde, de ter conforto, de viver com dignidade… Todos somos chamados ao terreno, para que, cada um à sua maneira e no que tiver ao seu alcance, possa fazer a diferença na vida de quem não pode esperar. Como? Dando o que se pode e conforme se pode. E dar não é desfazer-se do “lixo” que se tem em casa nem tentar encontrar um furo na agenda para ir para o terreno. Dar é oferecer ao outro o que gostaríamos de receber e, bem assim, desmarcar na agenda o que pode ser adiado em prol do compromisso da dádiva a quem, de repente, ficou descalço, emocional e materialmente.
Mesmo que não tenhamos possibilidades de dar directamente, há sempre um ou outro contacto que podemos estabelecer, ou com um amigo, ou com um conhecido, ou com um amigo de um amigo… Fazer parte da corrente é abraçar causas e ir ao oposto da inércia.
O pouco de uns é o muito de outros. Roupas, sapatos, cama lavada, artigos de higiene, materiais de construção, alimentos, medicação, ferramentas, electrodomésticos, tempo, carinho, atenção, presença, palavras de conforto, abraços, braços… tudo, mas tudo, faz a diferença na vida de quem só conhece a dor da perda de pessoas e bens. É preciso fazer acreditar. Urge fazer renascer a esperança. Só assim há vida. Só assim é possível dar sentido à vida. E em cada um de nós está parte da solução.
Fazer o bem sem olhar a quem é uma das razões da nossa existência. A entrega incondicional traz-nos mais em troca do que aquilo que se dá. Acima de tudo, permite-nos sentir que não estamos sozinhos, mesmo que tenhamos ficado sem nada. É o sentido de comunidade que deve ser transversal a qualquer credo. É o sentido de solidariedade que nos deve situar enquanto seres pertencentes a um todo. É o sentido de responsabilidade que devemos assumir na sociedade. É o sentido de compromisso, connosco e com o próximo, que deve comandar os nossos passos.
Por isso, sem vaidades nem egocentrismos, ajudar o próximo é não só dar oportunidade ao outro para acreditar no que a vida tem de bom, mas também ajudar-nos a nós mesmos a aprender a prática da humildade e a assimilar que cada um de nós é uma peça-chave na [re]construção de um mundo melhor.