Carla Sacramento

Menina dotada de enorme força de vontade, começou a dar nas vistas com apenas sete anos, numa corrida comemorativa do 25 de Abril. O segundo lugar não foi a vitória, mas, sim, a porta aberta para o sucesso. Os dados estavam lançados. A vida reservava-lhe glórias e palmarés que não serão esquecidos.

Carla Cristina Paquete do Sacramento, de seu nome, nasceu em Lisboa no dia 10 de Dezembro de 1971. Contudo foi do outro lado do rio, nas Paivas, que teve a sua vida. Apesar de ser muito jovem, as pernas pareciam ter vida própria e além da vida escolar, o desporto teve honras especiais.

Num concelho onde o Movimento Associativo tem uma história bem firmada, tendo sido a maternidade de grandes nomes nas várias áreas, o desporto é o que mais adeptos atrai. A Carla, com a sua determinação e pujança, chegou mais alto que outros.

Entre 1981 e 1985, é atleta do Clube Desportivo das Paivas. Tem, depois, uma breve passagem pelo Clube Desportivo e Recreativo do Fogueteiro em 1985. Muda-se para o Sport Lisboa e Benfica, onde é atleta, de 1986 até 1990, em nome individual no último ano.

É neste clube que conquista títulos do campeonato nacional, nos 800 e nos 1500 metros. No ano de 1990, nos Mundiais de Juniores, apesar do seu esforço, fica colocada num honrado quarto lugar não tendo chegado ao pódio. Contudo não esmorece e prossegue o seu trabalho.

O Sporting Clube de Portugal recebe-a de 1992 a 1994, ano em que se muda para o Maratona CP. A sua estreia olímpica foi em 1992, Barcelona e os Jogos Olímpicos, esse tão importante certame desportivo, ainda teve a honra da sua presença mais 3 vezes. Teve uma extensa carreira nestas andanças.

A sua estadia no Sporting Clube de Portugal deu frutos grandes pois renovou os seus títulos nacionais de 800 metros, tendo então, tido a oportunidade de se estrear em todas as grandes competições internacionais. O seu nome estava escrito no firmamento do desporto.

Muda-se para O Maratona CP, clube que a acompanha até ao fim da carreira. Esta meio-fundista não se deixava desmotivar pelo facto de não chegar aos lugares cimeiros e o seu labor nunca foi menor. Aliás, será esse o motor para prosseguir.

É especialista dos 1500 metros e campeã do mundo em 1997. Recebeu várias medalhas e bateu, mais de 20 vezes, os recordes nacionais. Está retirada, mas ninguém lhe retira os máximos nacionais dos 800, 1500 e 3000 metros.

A sua primeira medalha de ouro foi conquistada nos Europeus Indoor, em Estocolmo, nos 1500 metros. É campeã do mundo, nesta modalidade, em Atenas, no ano de 1997. Madrid, Budapeste e Viena viram a sua luz brilhar. Tantos são os prémios alcançados que, mesmo que fossem mencionados, nunca se faria justiça ao seu real valor.

No ano de 1997, mudou-se para Espanha, uma vez que o seu treinador era Miguel Mostaza. Na capital espanhola foi muito prodigiosa pois os seus recordes melhoraram e ganhou a única medalha nos Europeus ao ar livre. O pódio parecia ficar um pouco mais afastado, mas as suas prestações nunca passaram despercebidas. E ganhou. Ganhou tudo e muito. O mérito é seu.

No dia 6 de Outubro de 1998, é condecorada com a medalha da Ordem do Infante D. Henrique, como reconhecimento dos bons ofícios pelo país. A medalha de ouro nos Mundiais de Atenas levou o hino nacional a ser tocado e o seu som chegou mais alto.

Tem 51 anos. Uma vida cheia de glórias. Deu tudo o que tinha e lutou para conquistar o seu lugar ao sol. De carácter tímido, deu muitas alegrias a todos os clubes que representou. Recatada, largou a sua extraordinária carreira com 35 anos de idade. Entre bronze, prata e ouro, teve todas as medalhas e não foram motores de discórdia.

A Câmara Municipal do Seixal deu o seu nome a uma pista de atletismo. Há uma tendência geral para se cair no esquecimento. O mediatismo é efémero. No entanto o que esta mulher esforçada legou ao seu país, é de louvar e não esquecer. Muitos parabéns Carla, pela excelente prestação e sobretudo pela humildade, que sempre foi apanágio do seu comportamento.

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