Não sei como será consigo, mas deste lado existe um grave problema de gestão do tempo, ou melhor, diversos problemas. Primeiro: estar a horas onde me esperam — ginásio, cabeleireiro, almoços, reuniões. Também tenho dificuldades em deixar (ou ir buscar) as crianças na escola ou nas atividades extracurriculares dentro dos horários estipulados. As minhas filhas são aquelas que ocupam os lugares na sala de aulas quando a professora já escreveu a data no quadro; que ficam entediadas à espera de que a figura maternal chegue, esbaforida, com aquele ar desesperado: «Queridas, a mamã chegou!».
E não, não é a chamada preguiça matinal que me ataca. Acontece-me acordar às 6h00 da manhã para chegar antes das 8h00 ao ginásio e ser recebida com um «Boa tarde!» irónico do personal trainer. Por mais que tente chegar a horas, um infinito de imprevistos tende a acontecer-me (e as crianças também não contribuem para a ligeireza necessária ao cumprimento de horários).
Experimentei várias técnicas para antecipar cenários: preparativos no dia anterior (escolher as roupas, preparar os pequenos-almoços), elaborar uma lista detalhada do que necessito de fazer, adiantar o relógio. Resulta? Não. Os collants rompem-se no último segundo antes de calçar os sapatos; os óculos de sol desaparecem; as chaves do carro escondem-se; o portão da garagem avaria; o camião do lixo resolve obstruir-me a passagem; não consigo local para estacionar o carro.
Certa vez, fiquei presa no trânsito (enquanto me aguardavam num almoço de negócios) porque uma mãe pata e os seus nove filhotes resolveram ficar indecisos se passavam ou não para a outra faixa da Estrada Nacional 125. Pode parecer inverosímil, mas é real. Eis a Lei de Murphy aplicada à gestão do tempo: se é para chegar a horas, o Senhor Atraso faz das suas.
Felizmente, os eventos online possibilitaram-me sentir um certo controlo sobre esta questão. Mesmo que, nos minutos anteriores, tenha sucedido uma revolução de acontecimentos inesperados ou inusitados, lá estou eu, na hora marcada, com um sorriso genuíno, pronta para a ação. Um dia, ainda escrevo uma história sobre os bastidores desastrados dos eventos online.
Existiu um período na minha existência em que estas situações me causavam stresse. Agora não. Passei a aceitar este atraso crónico como parte da história pessoal. Para minimizar os impactos no Outro, informo quem me espera com antecedência: «Devo chegar dez minutos atrasada», mesmo que isso ainda não seja um facto consumado. Esta é das mensagens mais recorrentes que envio. De vez em quando, cumpro os horários. Tudo sem consistência ou garantias de que amanhã será igual.
O outro problema com o tempo prende-se com a intensidade de cada um dos meus dias, que, como já percebeu, começam cedo e, na maioria das vezes, terminam tarde. Sem considerar os atrasos em chegar onde me esperam (felizmente, nem todos os meus compromissos têm horários fixos), consigo gerir a minha agenda de forma bastante metódica. Eis o segredo que me permite desempenhar vários papéis num único dia: mulher ativa, empreendedora, mentora, aluna, mãe, amiga, filha, esposa.
Poderá pensar: qual é o problema então? O problema está na angústia latente, na sensação de que o tempo passa demasiado rápido. Uma hora transforma-se num dia. Uma semana, num mês. E quando estou de novo com as pessoas que amo após um hiato temporal, parece que uma eternidade nos separou.
Sofro de um estranho caso de saudade aguda. Um transtorno nada agradável para quem o suporta, um desfasamento de intensidade desconcertante (no seu livro O perigo de estar no meu perfeito juízo, Rosa Montero explana muito bem a hipersensibilidade emocional e sensorial de que padecem as mentes criativas). De vez em quando, o abraço apertado demais ou a ânsia de saber tudo denunciam-me. «Almoçámos na semana passada? Parece que não estamos juntos há mais de um mês.» São algumas das afirmações que repito com demasiada frequência.
O tempo é um feitiço, uma ilusão. Devemos aproveitar cada momento, mesmo que os ponteiros estejam atrasados ou que a saudade nos consuma. O tempo, companheiro complexo e exigente. Mas são as entrelinhas dos segundos que nos escapam, e o sabor do efémero que nos faz sentir vivos. Devemos abraçar o tempo, abraçar a vida, com a certeza de que cada instante é um presente, um convite para nos perdermos e reencontrarmos.
Como alguém disse certa vez (o que me faz acreditar que não sou a única a lidar com o feitiço do tempo): «O amor calcula as horas por meses e os dias por anos; e cada pequena ausência é uma eternidade.»