Remar contra a Maré

“Não sei se sou eu que remo contra a maré ou se é a maré que vai contra mim… mas assim me mantenho.”

(Sara, no blogue Momentos Mágicos)

2012. O ano em que tudo mudou em Portugal e em que fomos obrigados a acordar para a realidade que andámos a fugir durante muitos anos. O “aumento colossal de impostos” levou muitos para o desemprego, as dividas transformaram-se em cordas sufocantes e o país foi-se transformando aos poucos. Foi neste cenário, em pleno momento de mudança profunda do viver português, que criei o Repórter Sombra – o meu momento de mudança pessoal.

Desde cedo que decidi conscientemente marcar a nossa individualidade enquanto projecto e construir algo que gostasse de ler, de seguir e de reflectir. Por isso, apostei em não seguir tendências, não seguir “exclusivos” e em não ser comandado pelos momentos de “última hora”, porque esse é o terreno em que o jornalismo hoje em dia navega em Portugal e no qual não me revejo. Preferi seguir por outro caminho: escolher temas pouco falados, ou em notícias simplesmente relatadas (em vez de pensadas) e tentar perceber os seus porquês, os seus comos e as suas consequências. E confesso, não é um caminho fácil de trilhar, principalmente sem qualquer tipo de apoio.

Aventurei-me na crença de que poderia fazer algo diferente no que toca à forma como as notícias são tratadas e, acima de tudo, comunicadas. Isto, porque acredito que as notícias não se fecham em caixinhas, nem são um exclusivo dos jornalistas, principalmente na Era em que vivemos, com a Internet a ligar-nos a todos e a permitir que cada um de nós seja criador de informação. Acredito que cada um de nós tem uma história, uma visão e uma voz que pode transmitir para juntar a outras vozes e, assim, criar conhecimento, debate, conteúdo, informação. No entanto e mesmo sabendo que o produto final é de imensa qualidade, não tem sido fácil ganhar a relevância merecida.

Não existe publicidade para pagar as despesas, todo o trabalho é realizado por amor à ideia que está na base do projecto, não podemos fazer grandes publicidades ao nosso trabalho e não temos investidores que nos apoiem nesta vontade de pensar as notícias e o mundo que nos rodeia. E mesmo assim continuo, porque acredito… acredito que o Repórter Sombra tem tudo para alcançar cada vez mais, porque acredito que conseguimos tocar na mente de quem nos lê e acredito nas vozes que vamos publicando diariamente neste magazine online.

E penso que é isto que nos falta, enquanto nação. Falta-nos acreditar em nós, nas nossas capacidades e nos nossos sonhos. Falta-nos acreditar no que somos capazes de alcançar, no caminho que temos pela frente e, acima de tudo, nas nossas próprias capacidades. As nossas ideias têm valor, as nossas vozes devem ser ouvidas e os nossos sonhos estão a um longo caminho de serem alcançados. E como sei isto? Porque mesmo sem qualquer apoio, investindo apenas o pouco dinheiro que tenho, foi possível alcançar mais de 140 mil pessoas e sempre com feedback positivo. Mesmo quando me diziam que as pessoas não gostam de pensar, ou que já há muitos blogues e muitos jornais por aí para o Repórter Sombra ter um lugar, eu acreditei que isso não era verdade. Por isso, acreditei.

Não é fácil remar contra a maré que todos teimam em seguir, mas como disse Fernando Pessoa: “A maioria pensa com a sensibilidade, eu sinto com o pensamento. Para o homem vulgar, sentir é viver e pensar é saber viver. Para mim, pensar é viver e sentir não é mais que o alimento de pensar.

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