Contente descontentamento de uma vida

Sou curiosa de natureza, ambiciosa de profissão. Dizem que vou mais além que muitos sonharão e perguntam-me porque o considero um elogio. De sorriso no rosto para o mundo, mostro-lhes os meus sonhos e disseco os meus segredos. Sabem, é que eu não sou muito boa a contentar-me: nem com pouco, nem nunca chegando ao muito.

Reclamam o dia todo que a vida não lhes dá muito, que a noite lhes traz muito pouco. Olho para eles e olho pela minha janela: as mesmas 24 horas corre-lhes nas veias, deixando nem mais um segundo a esse suor que dizem cair no seu passado. Falta-lhes algo que nunca viveram, digo eu. Vejo a sua surpresa e percebo que mais uma desculpa vem a caminho e que antes de a pronunciarem já duas se formaram no seu coração. Sabem, é que aprendi desde muito nova que a luta é inglória quando não serve para nos preparar para algo melhor.

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Chamam-me de sonhadora e de louca até. Dizem que a vida logo, logo me tira esse cor-de-rosa, desbotando-o até ao negro. Respondo-lhes a cantar, marcando o meu ritmo, enchendo-me de um tom muito meu e respeitando as pausas que o meu corpo pedir. Sabem, é que eu sou assim, invento as minhas regras e levo no peito nada mais do que o amor que preciso.

Para mim, ser feliz é ser descontente. Não mostrar ao medo mais do que a atenção suficiente para lhe dar um pontapé no rabo e encher o coração com a coragem necessária, pensando sempre mais além, mais além, mais além… O limite? Nem o céu me chegará…

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