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Bem-vindos/as ao mundo encantado das redes sociais, onde há reis, princesas e dragões

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Em março de 2020, quando a pandemia convidou-nos a ficar por casa, descobrimos mais 67 funcionalidades dos nossos smartphones e computadores. Se já usávamos muitos estrangeirismos, tudo aumentou. Conseguimos com facilidade construir uma frase que faz com que os nossos avós tenham vontade de usar o google tradutor.

Façam o download do software zoom porque a aula começa às 9am’.

A minha vida passou a ser ecrãs e cabos. Sim, cabos, porque esta entrada não é compatível, porque aquela saída já não se usa. Dei por mim na FNAC a pedir ao colaborador (muito empático, by the way) ‘um cabo para o meu portátil que só sei a marca, não o modelo, para projetar a imagem num projetor, do qual também não tenho informação nenhuma’.

Os meus pais descobriram as maravilhas de uma videochamada e as minhas tias acreditam que o WhatsApp é uma plataforma de partilha de fotografias dos sonhinhos-netos. Não, pessoal das engenharias informáticas e programação, não tenham ideias.

A minha vida virou-se para a internet e redes sociais. Também se virou para a escrita e esta, pelo menos na minha área, exige um pouco de investigação. Comecei então a perceber como isto tudo funciona.

Num primeiro momento, é maravilhoso. As redes sociais trazem benefícios de comunicação para a nossa vida pessoal e profissional. Hoje sei que aquela minha amiga do primeiro ciclo tem um filho e quando me encontrei com ela na rua não foi awkward porque já trocámos likes e comentários no Instagram. As redes sociais diminuíram estes anos todos sem contacto. Percebemos também como o mundo é pequeno: o primo António tem um projeto com o Roberto que namora a Ana que tirou a pós-graduação comigo e é CEO do coworking que o meu namorado decorou. E, de repente, parece que somos todos amigos de infância.

Também o mundo profissional beneficia da existência e desenvolvimento das redes sociais. Tenho um Instagram todo bonito. Quanto faturei com ele? Nem um tostão. Assim mesmo, em bom português. Mas ainda há dias, recebi uma mensagem: ‘Sou seguidora da tua página e lembrei-me de ti para este trabalho’. As redes sociais são uma montra, um showroom, daqueles que os colaboradores ficam na loja de noite a montar.

Contudo, o mundo não é preto e branco. Há muitas cores aqui no mundo. E no que diz respeito às redes sociais, até o café-com-leite-morno-sem-lactose é uma cor. Não tenho espaço para vos falar aqui das fake news. Os telejornais têm uma hora e 45 minutos e duração, ou seja, têm tempo para contextualizar todas as notícias. Mesmo assim, já assisti pivôs a pedirem desculpa, porque noticiaram algo incorretamente. Daí a necessidade de um polígrafo ou fact checking.

É urgente criar um estudo sobre a partilha de notícias falsas, sem fundamento cientifico ou investigação: porque acontecem, qual é o perfil das pessoas que costumam partilhar estas notícias, como se divulga algo tão rápido e porque se acredita em tudo.

Eu, que passo uma média de 5 horas/dia no iPhone (shame, shame e o sino a tocar), tenho todas as notificações de redes sociais desligadas. O meu telemóvel só toca para chamadas e mensagens tradicionais. E bloqueio conteúdos. E bloqueio pessoas. E deixo de seguir contas. Não tenho problema nenhum com a cultura do unfollow. O algoritmo é como aquele professor de matemática do secundário (para mim era de francês, mas talvez a grande maioria dos leitores deste texto se revejam mais no exemplo da matemática): não o suportamos, mas precisamos dele para passar. Eu cá não tenho paciência para o ‘tens de fazer 3 publicações por dia, 738 histórias, tens de mostrar os teus filhos e usar muitos filtros, mas tens sempre de te queixar dos filtros e dizer que és uma mulher Dove’.

Também eu fiquei iludida com este mundo. Acho espetacular. Mas não nos deixemos ser vítimas de violência do nosso próprio telemóvel. Entre sair voluntariamente de grupos de Facebook ou ser expulsa, aprendi que tenho de respeitar que existam pessoas que confiam mais nas mezinhas de 1765 partilhadas por um estranho num grupo de facebook do que a estratégia (seja ela medicação ou terapia) recomendada pelo médico de família ou pediatra. É aceitar que dói menos.

Não tenho de estar em todo o lado a toda a hora. Tenho de estar, virtualmente falando, no local onde me faz mais sentido, a ler informação credível e conteúdo que me entretém e educa.

Sim, é possível, é real: há conteúdo que entretém e educa.

Sim, entretenimento e educação andam de mãos dadas.

Já vos disse hoje?

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Sandra Caravana
Uma caravana por dia, não sabe o bem que lhe fazia. Copywriter. Storyteller.

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