Tame Impala, The War on Drugs, Likke Li, Tv on the Radio, Father John Misty, Charles Bradley, Ratatat, Blood Red Shows, Temples, Slowdive, Woods…
Era o melhor cartaz entre os festivais daquele Verão, segundo vários entendidos com quem falei. O David – batido nestas lides – corroborou: iria a Paredes de Coura em Agosto e eu e a Margarida juntámo-nos. Leigo em quase tudo o que diga respeito ao panorama musical dos anos 80 em diante, eu tinha ido com eles (mais a Rita e o Alex) ao Primavera Sound, em Barcelona, no ano anterior. Uma experiência desconfortável com chuva, horas intermináveis em pé, dores de costas, comida de plástico, casas de banho inenarráveis e música que não me cativou, pontuada por alguns “oásis” como Arcade Fire, The National e sobretudo Caetano Veloso e Slowdive. Foram estes últimos, juntamente com a vontade de conhecer as terras minhotas sobre as quais muito ouvira falar, que me levaram a embarcar nesta aventura a mais de 400 kms de casa.
Ficámos alojados a 1 km do recinto, numa espelunca cuja cortina do duche se me colava ao corpo de cada vez que tomava banho! Não faz mal – pensei – é o espirito de Paredes de Coura, ideia prontamente desfeita mal nos passeámos pelo acampamento “javardo” onde o verdadeiro espírito de Paredes de Coura era vivido: num ambiente bucólico junto a um rio, protegidos pela sombra de árvores idílicas e rodeados pela vegetação e pela montanha que só de olhar me fazia sentir bem, os membros da “tribo” saiam das suas tendas (entre as quais não passava uma formiga de tão juntas que estavam), banhavam-se no rio, afastavam a bicheza para aquecer as conservas e repetiam a roupa do dia anterior para seguirem para a poeira e lamaçal do maravilhoso anfiteatro natural onde aconteceria a música.
A Margarida havia conseguido bilhetes para a zona VIP pelo que não levámos com o pó, com a chuva, com as bebedeiras, com a falta de assentos nem com o crowdsurfing. Adorei! O ambiente e a música (Slowdive confirmou o fascínio de Barcelona; Father John Misty, Woods e Temples surpreenderam-me; os cabeça de cartaz nem por isso).
Durante o festival visitámos Caminha, Vila Nova de Cerveira, Arcos de Valdevez, Ponte da Barca e Ponte de Lima, de longe a vila mais bonita por onde passámos. Ao final da tarde seguíamos para o festival onde descansávamos ou liamos na relva antes da “malta da pesada” chegar. Lembro-me de ver, lá em baixo, o rio contornar o palco, e sentir quão indescritível era figurar naquele cenário enquanto leitor! Assim que a hora dos concertos se aproximava e o cheiro a ganza tomava conta da leitura (O Deserto dos Tártaros tornava-se-me num “deserto”), subíamos para o espaço VIP onde, com comida à borla, casas de banho decentes e telheiro, estávamos no Céu (nunca bebi tanta sidra como naquele Verão).
Para muitos, não vivi a verdadeira essência do festival mas, tendo conhecido um Minho há muito ansiado e apreciado uma música que eu não esperava de todo, Paredes de Coura foi para mim, naqueles quatro dias do Verão de 2015, uma experiência mítica, que recordo com carinho de cada vez que volto a ela. E não voltei a Paredes de Coura.
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