António Costa, atual primeiro ministro para os mais distraídos, relembrou-me estes dias o motivo pelo qual o noticiário não faz parte do nosso cardápio à hora da refeição: o miúdo já tem escola suficiente na área das birras e é arte que domina com mestria, não precisa de um homem feito a mostrar que os adultos também amarram o chibinho, quando não conseguem resolver um determinado problema, muito menos precisa de perceber que pode usar a chantagem como arma de defesa. Eu até compreendo o homem, atenção, é frustrante perceber que a vocação já não é o que era e hoje vale mais um ordenado justo com uma carreira digna, do que a vocação e gratificação pessoal de ensinar. Não se entende.
Da mesma forma, também não se entende Joe Berardo nem se acredita na sua inocência. Eu acredito e acho mesmo que estamos a ver isto pelo prisma errado. Por partes: o homem, segundo auditoria, deve uma pipa de massa à Caixa Geral de Depósitos, certo? Assim para cima de 300 milhões. Ora, como é que a CGD, na imensa benevolência em emprestar quantias avultadas, não se predispôs a deitar a mão a António Costa para ajudar com o problema dele? Não faz sentido? Então que sentido fazem os 300 milhões a Berardo? Além disso, se o homem efetivamente tivesse essa quantidade mórbida de euros, não dispensaria uma pequena verba para fazer um implante capilar? E para a contratação de um consultor de imagem que desse ali uma reviravolta ao visual? Isso sim, seriam mostras de riqueza, abundância e fartura. Se eu fosse a Berardo, aproveitava a onda e abria uma cadeia de lojas dos 300. Só para mostrar que sabe brincar com o dinheiro.
E por falar em dinheiro. Então, uma série com um investimento de milhões como Game of Thrones e não tem mais uns trocos para construir uma cena de decente de despedida entre Jon Snow e Ghost? Pior: esqueceram um copo de café no cenário. Café manhoso, ainda por cima! Se fosse uma chávena de um bom cimbalino da Delta, não havia um terço do alarido. E também, sejamos francos, numa série com dragões, lobos gigantes, mortos-vivos e incesto, que diferença faz um copo de café no cenário? Portanto, a Cersei ter filhos do próprio irmão, tudo bem. Agora alguém da produção precisar de uma dose extra de cafeína é que não dá com nada. Indignamo-nos com coisas verdadeiramente fraturantes, é o que é.
Voltemos a Portugal e ao nosso pequeno reino de fantasia, onde se praxa de forma pueril e casta. Menos as meninas que se embriagam, caminham ziguezagueando e tropeçam nas partículas de pó. Essas merecem a violação. Perdão, enganei-me: essas pedem encarecidamente a violação. Suplicam por alguém que as domine e faça com elas coisas que não querem, mas também não sabem que querem, porque estão podres de bêbedas. No fundo, o violador foi uma espécie de psicólogo: dei-lhe aquilo que ela precisava, mas que ela ainda não sabia que precisava. A isto é que eu chamo estudantes aplicados: apreendem a matéria, não se deixam levar pelos estados de pouca lucidez e aplicam o que aprendem no dia a dia. Melhor: não se deixam abater pelo bafo a vodka e gin tónico manhoso. Um aplauso para o agressor, pobrezinho, que estoicamente aguentou com um corpo anestesiado pelo álcool. Não é para qualquer um.
Ainda assim e apesar de tudo isto, o que mais incomoda e me causa urticária são as laranjas. Fico cega com este sacana deste citrino. Uma pessoa compra um 1kg de laranjas que se vai a ver e afinal são 250gr de tangerinas, os outros 750gr são apenas casca. Da grossa e daquela que encrava nas unhas e fica colada às cutículas como se lhes jurasse amor eterno. Pior ainda quando aqueles 250gr são palha fibrosa. Nem uma gotinha de sumo, só aquela fibra que fica entre os incisivos e só sai à força de fita dentária que, só por acaso, não temos connosco. Isso, sim, esfrangalha os nervos a uma pessoa, sacanas das laranjas. Ainda por cima tem pevides que se atravessam na garganta, qual assunto que nos custa a engolir.
O mal do mundo são as laranjas enganadoramente tentadoras, nós é que nos indignamos sempre com coisas mínimas e que não interessam a ninguém.
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