Bem me quer, mal me quer

Nunca se falou tanto em bem-estar, nunca se venderam tantos livros de autoajuda, desenvolvimento pessoal, saúde, felicidade, equilíbrio do corpo e alma, pensamentos e afirmações positivas, autoestima, meditação e exercícios para a tão ansiada vida plena. Várias clínicas, empresas, terapeutas, especialistas e coaches publicitam e promovem o bem-estar.

«De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o bem-estar faz parte do conceito de saúde. A OMS define saúde como “um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença ou enfermidade.”»

Simultaneamente, há cada vez mais pessoas a tomar antidepressivos. Segundo o Expresso, o consumo deste tipo de medicamentos quase duplicou na última década. Por dia, em Portugal, são vendidas, em média, 33 mil embalagens. «Segundo dados da Autoridade Nacional do Medicamento (Infarmed), foram prescritas no ano passado cerca de 12 milhões de caixas, o valor mais alto de sempre. A prescrição tem vindo a subir todos os anos, registando um crescimento de 80% entre 2013 e 2023.»

Alguma coisa está mal. Se, por um lado, há cada vez mais ajudas, ferramentas e profissionais disponíveis para ajudar com inúmeras técnicas, há também cada vez mais pessoas a sentirem-se infelizes, deprimidas e incapazes de lidar com as suas emoções e sentimentos de mal-estar.

Será que estamos a ser brutalizados com tantas mensagens sobre o bem-estar mental? Será que os conselhos simplistas dos gurus estão a tirar a nossa atenção do que é realmente importante?

Segundo a Ordem dos Psicólogos Portugueses, «em Portugal, existe um número indeterminado de pessoas e instituições que reclamam o exercício de atividades de Coaching. No entanto, é difícil identificar quer a sua qualificação, quer a verdadeira natureza das atividades que realmente exercem. O Coaching é um negócio não regulado, pautado por muitas pseudoqualificações, acreditações sem significado e “grandes nomes” autorreconhecidos como “líderes” na matéria, que usam a denominação Coaching para se promoverem. Qualquer pessoa se pode auto denominar “Coach Certificado”, qualquer pessoa pode criar uma organização de formação para coaches.

A população em geral tem um desejo claro de estratégias para melhorar o bem-estar e facilitar a realização de objetivos pessoais e profissionais. A importância da Saúde Psicológica revela-se, por um lado, nas necessidades e pedidos de ajuda da população, e por outro na atração que estes aspetos geram em profissionais com formações distintas da área da saúde e que procuram ganhar dinheiro através de práticas de “Coaching”. Frequentemente, a população não está bem informada sobre o que constitui uma qualificação válida e confiável e, por isso, pode ser facilmente confundida e enganada pela validade das pretensas competências de alguns Coaches

Quem diz coaches, diz gurus da saúde, do bem-estar, iluminados, especialistas, médiuns e outros seres que se intitulam capazes de ajudar e motivar outros. Até podem fazê-lo, muitos até têm boas intenções, mas outros apenas querem lucrar com isso.

Claro que cada um de nós pode dar conselhos segundo o seu próprio ponto de vista e experiência de vida, mas a bota que serve a um nem sempre serve ao outro.

Há que ter cuidado e procurar comprovados médicos e especialistas antes de enveredar por cursos, técnicas, meditações, retiros, consultas e até medicamentos e suplementos sobre a saúde e o bem-estar. Afinal de contas, é o que temos de mais precioso – a vida!

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