O porquê de eu, uma cidadã deste mundo com uma vida privilegiada, ser agnóstica ateísta e ter renunciado à doutrina religiosa dominante em Portugal, é apenas o resultado de nunca ter sido “obrigada” a ser crente, ou seja, nunca fui formatada no que concerne a religiões.
A minha educação permitiu-me ter a curiosidade para procurar informação sobre as mais diversas religiões e conseguir ter um olhar crítico em relação ao que nos rodeia.
A existência ou não de um Deus ou entidade superior que nos possa ter criado e que tenha alguma influência sobre o nosso destino não é algo que o conhecimento humano possa comprovar.
Porém, os mesmos argumentos que defendem a existência de Deus, são os mesmos que os deitam por terra e tudo não passa de uma crença pessoal para justificar aquilo que a nossa mente não consegue processar.
E se essa questão fica em aberto na minha mente, prefiro não acreditar que um Deus todo poderoso, seja qual for o seu nome, consiga compactuar com as atrocidades desde mundo, permitindo o sofrimento de tantos inocentes e a impunidade de tantos pecadores nesta breve passagem por uma vida que nunca pedimos.
Nenhum de nós é o culpado do pecado original. Somos, apenas e só, culpados pelas nossas acções pessoais e somente por essas, devíamos pagar.
Não me parece de todo “justo” a humanidade inteira ser responsável por pecados que não cometeu e não ser guiada no sentido de evoluir até à suposta perfeição do que teria sido a primeira vontade de Deus.
Nada neste mundo consegue convencer-me da existência de um Deus que deixe crianças virem ao mundo apenas para morrerem depois de sofrerem doenças, abusos, violência, fome, desamor e tantas outras atrocidades.
Que Deus permite que a sua criação feminina seja tratada como um ser inferior, para vir ao mundo, também ela, para sofrer antes de voltar a ser nada?
Ou um Deus que deixe a sua grande Obra ser corrompido por tantos defeitos? Porque não a consertou, lá nos primórdios da criação e nos deixou um cérebro capaz apenas de entende-la?
Isso eu não consigo compreender. E como não consigo entender lógica alguma nas explicações que me dão, resumo a minha incapacidade de entender e reduzo-me à minha ignorância admitindo que é demais para mim. Mas não me contem histórias de embalar, com infindáveis parábolas que não têm outro sentido senão o de mascararem a nossa incapacidade de perceber o sentido disto tudo a que se chama viver e a razão de termos nascidos já condenados a morrer, algo que também não nos cai muito bem, como seres que têm a pretensão e/ou presunção de serem perfeitos e eternos.
Mas o que sei eu? Nada. E mesmo os grandes pensadores e sábios instruídos nunca foram muito mais além do que isto: no fim, nada sabemos e vamos como viémos: ignorantes.
E ser agnóstica é isto. Saber que nada sabemos e que jamais iremos saber.
Porém, ultimamente, ouvi alguns comentários sobre a admiração daqueles que se afirmam crentes perante a generosidade ou mesmo grandiosidade de certas figuras públicas e o facto das mesmas não acreditarem em Deus.
Meus amigos, não confundam as coisas: acreditar em Deus não torna as pessoas melhores, sendo que foi em nome de Deus (seja com que nome for) que se cometeram e cometem as maiores atrocidades, e muitos dos ateus ou agnósticos que conheço são das pessoas mais puras e íntegras que existem, possuindo a tal generosidade e sentido de gratidão que não consigo reconhecer em muitos crentes da nossa praça.
A pureza e honestidade de uma pessoa, tal como a capacidade de amar o próximo, não podem ser confundidas com a necessidade, ou não, de acreditar em algo que lhe conforte a existência.
As pessoas são o que as suas acções e a sua natureza as transforma e que nada tem a ver com as crenças que dizem ter.