Acabadinho de chegar às livrarias e do mesmo autor de A Casa de Bonecas, A Vingança serve-se Quente é mais um policial absolutamente incrível de M. J. Arlidge. Não desilude, bem pelo contrário. Quantos mais leio, mais quero ler e mais dentro deste universo quero estar.
O autor consegue escolher sempre histórias que nos deixam tontos, no bom sentido: quando achamos que sabemos ou desconfiamos, afinal não sabemos nada e andamos constantemente às voltas. Porém, é bom, é isto que me faz entrar na história e não dar pelas horas passar, porque estamos à procura da próxima pista, queremos saber o mistério. A forma como M. J. Arlidge nos guia faz sentido: a investigação, os erros, as falsas pistas, as histórias paralelas, os caminhos, e o final. Sendo um argumentista inglês para séries de TV, não me estranha a forma dinâmica (cada capítulo é muito pequeno) de escrever, onde sempre se passa qualquer coisa e não existe “palha” para os momentos mortos. Escolhe dar-nos uma visão só do que é importante, em vez de nos tentar “engonhar” até ao próximo acontecimento relevante. Adoro esta dinâmica, quase de vários contos juntos para formar um grande puzzle.
Nesta história em particular, gostei de sentir a humanidade de quem tinha cometido os crimes. Não aconteceu tanto com o livro anterior. Neste, mesmo que não desculpe, aproximamo-nos perigosamente de compreender as razões e o ódio que levou a cometer os crimes. Concordamos que, afinal, os criminosos vão mais além dos que cometem o crime. Arrepiante e humano.
A escolha de personagens do autor também é curiosa e uma lufada de ar fresco, começando pela protagonista. Quanto mais leio, mais quero descobrir sobre Helen Grace, a inspectora-detective que consegue ser uma mulher forte com um instinto extraordinário, mas muito quebrada, sozinha e quase perdida por dentro. Não li os primeiros dois livros, mas estes dois últimos deixam adivinhar que nos anteriores se descobriu que esta agente teve uma infância terrível e tem problemas sérios em conseguir ter algum tipo de intimidade seja com quem for. Gosto disso. Embora possa ser cliché – em muitos livros e séries, os polícias têm histórias terríveis no passado –, alguns clichés funcionam e eu gosto de personagens com bagagem, que tenham quebras na alma, que lutem, que sejam diferentes. E Helen Grace tem uma combinação de características que, junto com um segredo/vício diferente, faz dela uma lufada de ar fresco em relação ao que costumo ler.
No entanto, não é só Helen Grace. Já no livro anterior eu tinha reparado e neste fui ainda mais consciente: para ajudar a nossa protagonista, estão várias outras mulheres polícias de serviço. Mulheres polícias. Mencionam uns dois ou três polícias homens (neste livro um deles é chefe, no anterior era uma mulher a chefe também), mas de resto este autor optou por ter várias personagens mulheres, não só as polícias como outras investigadoras e até antagonistas. Acho muito curioso e óptimo, no mundo do crime, que é claramente de homens, que um livro escrito por um homem tenha tantas mulheres fortes, emocionantes, com tantos papéis diferentes, que tomam conta de si próprias e que são tantas coisas, boas e más, ao mesmo. Espero que haja uma série de televisão em breve.
Um super-obrigada à Topseller / 20|20 Editora pelo envio, fez-me ganhar o mês!