Vais na rua. Cruzas-te com o João. Era teu colega no secundário e falavam durante horas a fio. Dizes “olá, tudo bem?”, mas nem esperas pela resposta. Segues caminho porque sabes que já ninguém responde ao “tudo bem?”. Ficamos só pelo “olá”.
Conversar parece já ter ficado fora de moda. Hoje em dia, falamos. Falamos como se falar fosse o suficiente. Mas não é. Falar é sinónimo de verbalizar. Deixar sair palavras da boca. Palavras que podem transformar-se em histórias que o outro não vai ouvir. “Papá, hoje fiz um desenho novo na escola”. “Boa, filho”. Sem diálogo. Damos “parabéns”, dizemos “obrigado”, “bom dia” e “até amanhã”. Perguntamos como correu o dia (de vez em quando), mas, metade das vezes, nem ouvimos a resposta porque estamos a pensar no que vamos fazer a seguir. No fundo, esquecemo-nos do outro. Porque já não sabemos o que é conversar. Esse conversar que é mais do que perguntar se está tudo bem ou como correu o dia.
Para muitos de nós, esta distinção já nem sequer existe. Acreditamos que o “estive a falar com a Andreia” significa que estivemos lá de corpo e alma. Mas não. Não é a mesma coisa. Conversar implica um friozinho na barriga. Aquele friozinho que te dá prazer por sentires que alguém te está a prestar atenção. Que ouve cada sílaba tua. Que pergunta. Que partilha as suas histórias contigo. Partilha. É esse o verdadeiro sentido da palavra “conversar”. Partilhar histórias, segredos e ambições. Sair do cinema e debater o cinema que viram juntos. Estar no teatro e dar as mãos naquela cena arrepiante ou ir às compras e não conseguir escolher nada porque se perderam a partilhar a história daquele arroz que ficou colado na panela na noite anterior. Isto é conversar.
E, se tiveres preguiça de ler este texto até ao fim –afinal, nunca temos tempo para nada- eu resumo-te o que significa conversar, numa frase. É encontrares o João na rua, parares, dizeres “olá, tudo bem?” e esperares pela resposta. O resto proporciona-se. É assim que a conversa surge. Não a percas.