Gosto de viajar, percorrer terras, conhecer novas pessoas e saborear outras maneiras de ser. Comidas que não sabem a nada, mas entram por caminhos que ficam para sempre, são experiências que se arquivam e se querem repetir. Viajar é aprender com os olhos e o paladar, sentir o vento e o sol de todos, mas pensar que é apenas seu.
Londres é uma cidade sedutora e cheia de magnetismo. Nem o seu clima, ou estado de tempo, faz afastar quem ouve o seu chamado e se deixa ir pelas vozes de sereia que encantam sem parar. A História vive aqui, como em outros lugares, mas o som de sua majestade, a monarca mais bem-sucedida de todos os tempos, embala e enternece quem a quiser visitar.
Certamente que o ano de 2022 será especial pois o jubileu de platina da rainha será um enorme privilégio. Tantos anos no trono e tantas mudanças políticas, é apanágio de seres únicos. Para quem não tinha o trono como finalidade, não se tem saído mal. Superar escândalos e desaforos, deve ser um jogo de crianças para a pessoa que não verga nem perde a elegância, em situação alguma.
O relógio mais preciso de todos, o Big Ben, ainda está em melhorias, mas as horas continuam certeiras e concisas. Exibe-se, cheio de charme e elegância, vaidoso e toleirão, qual menino que sabe ser bonito. Ali, onde se mostra, tem o rio que o ampara. O Tamisa faz-lhe a corte e são felizes assim. A pontualidade britânica está representada com pompa e circunstância.
O Parlamento, pontiagudo, tocando o céu, alberga as decisões de séculos e ainda uma beleza que não se pode ignorar. Com carradas de tempo e de obras feitas, ainda alberga o destino de muitos. Atraente e altivo, não consegue passar despercebido nem permite faltas de respeito. Astero e duro, ergue-se em beleza e decisões.
Os museus são locais de romaria, que juntam tantos seres deliciados como atónitos. Há de tudo e a dificuldade reside na escolha. Quem gostar muito, que os visite e se maravilhe com o que vê. Difícil é escolher qual o melhor. A beleza e a história, de mãos dadas, convidam os visitantes para experiências únicas e inesquecíveis. Alguns permitem o manuseamento de certas peças.
Entrar nas catedrais é outro ritual. Ouvir as mil vozes de quem as construiu com as suas mãos, os lamentos de todos os que ali buscam refúgio e os segredos de quem ficou por ali, são momentos irrepetíveis e extraordinários. St. Paul e Westminster chamam como se fossem doces sereias em pleno mar.
As estações de comboio são outro tema atraente e um manancial onde todas as despedidas que ali aconteceram, se eternizaram em momentos ou em estátuas que recordam o que são sentimentos. Os suspiros de partida ainda superam as alegrias da chegada.
E parques? Quem não gosta de verde, de natureza, de flores, do som dos lagos e de maravilhosos esquilos que pedem, delicadamente, para comer? Os bancos têm nomes e a imaginação permite que se criem romances e amores que flutuam nos ares.
Também existem as ruas emblemáticas, aquelas que são faladas através da música, que são capa de discos antigos, de vida que se renova e que não para de fervilhar. A magia que libertam não se suspende e ainda se sente tudo como se estivesse a acontecer. Há quem repita os passos dados para que a sensação seja a mesma.
Confesso que o meu olhar em Nothing Hill foi mais aguçado. Não que fosse encontrar certas personagens de um filme icónico, mas o cheiro que me ficou colado teve o condão de reviver as cenas e os amores. Por um mero acaso cruzei-me com uma actriz conhecida. O lixo não me agradou nada nem a postura dos moradores que, supostamente, seriam educados.
Harrods pode ser sinónimo de compras e de luxo. Talvez o tenha sido, mas agora há espaço para todas as bolsas. Entrar nesta casa é viajar em vários patamares e sentir o cheiro de quem gosta de se exibir. Sim, há gente vaidosa em todo o lado e esta catedral de consumo atrai muito de várias maneiras. Confesso que a secção de enfeites de Natal me encantou e nem sou grande admiradora da época.
Para quem gosta de navegar, um cruzeiro no Tamisa pode ser uma aventura para aprender e se divertir. O guia, com voz monocórdica, vai indicando os pontos de interesse e as opções à disposição. Para quem não é apreciador de museus, há sempre pubs que colmatam esse hiato. Uma paragem, em Greenwich, deve ser feita com tempo, já que tempo é a palavra de ordem por aqui. Todos os tempos/horas do mundo aos pés de quem os quiser pisar.
Os alojamentos são outra variante a ter em conta. Há os hotéis, os clássicos e os de charme. Os primeiros apresentam todas as mordomias que se entender, os segundos são mais cozy e levam a viagens para momentos que não se repetem. Datados com um vínculo bem forte, servem alegrias para recordar. Depois seguem-se os hotéis e aí tudo muda quando se conhecem pessoas mais despreocupadas que apenas querem dormir e conhecer a cidade.
O típico pequeno-almoço britânico é para estômagos fortes e pode ser uma forma mais ou menos(?) saudável de mergulhar na cultura. É preciso que a calma faça companhia e desfrute de um paladar que mistura sabores e texturas que nem sempre casam com rigor. O fish and chips, para almoço ou jantar, não deve ser descurado e, garanto, que há bons locais onde o provar.
Contudo a cidade oferece ainda a possibilidade de caminhar nas suas pontes, nas emblemáticas e nas mais modernas. As suas margens ligam-se com a maior das facilidades e, durante o período do almoço, é ver tantos que as usam para aproveitar o ar que de smog, já só tem a memória. As vozes são díspares e as línguas multiplicam-se, dando razão à ideia de cidade poliglota.
Se ainda lhe persiste um pingo de romantismo, é andar de metro e ouvir a voz de um homem, eternizada nos altifalantes: “mind the gap between the train and the station”. Conta uma história de amor que poucos conhecem, mas podem sentir. A sua viúva conseguiu que fosse mantida esta melodia e espalha doçura por quem entra e sai destas composições.
Aproveite os comboios e delicie-se com a paisagem e ainda mais com as muitas conversas que possam acontecer. Este é o transporte mais usado por quem está fora do centro urbano. Há quem aproveite para ler, um hábito salutar e perigoso. Saramago é conhecido por estas bandas. Outros apenas usam a cara de passageiro e vão às suas rotinas. Os adolescentes, essa classe tão maravilhosa, são iguais em qualquer lugar, cheios de descobertas e manias.
O verdadeiro inglês, o britânico, é um doce som que penetra nos ouvidos e faz voar. Que delícia ouvir falar esta língua com intensidade e ardor. Londres é a cidade das mil línguas, mas a nativa é a que continua a encantar. Todas as palavras pronunciadas com rigor e intensidade, pegam em quem as ouve e levam a entrar nas séries da BBC ou em filmes, que nunca deixam passar de época.
Confesso que tenho muita vontade de voltar. Os aeroportos não me deixaram saudades, mas a cidade sim, em tudo. Fica sempre o sabor a pouco e o pingo de querer saborear ainda mais todos os detalhes. O facto de me quererem vender um pedaço de céu pode ser uma mais-valia ou, então, ouvir o Jamie, o homem das comidas, convencido de que eu não era eu. “Are you Dutch?”, são perfeitas melodias de embalar.