Em 2 anos… a indústria dos gadgets electrónicos reconfigurou-se

Ver televisão, usar o computador, consultar as mensagens no telemóvel, ler o jornal, desfrutar das potencialidades de um centro comercial são tarefas simples e rotineiras que dispensam manual de instruções. Contudo, se pensarmos nas dificuldades que uma pessoa deficiência visual poderá sentir ao desempenhar essas mesmas tarefas, rapidamente chegaremos à conclusão que existe, no mercado da informática e da electrónica, uma lacuna a ser preenchida.

Foi a pensar nessa lacuna e nas suas infinitas potencialidades de exploração que muitas universidades, centros de investigação e empresas multinacionais resolveram unir esforços. Dessa concertação resultou, nos últimos dois anos, um crescimento exponencial do número de gadjets destinados a pessoas com problemas de visão.

Um dos utensílios cuja invenção mais entusiasmo gerou, nos últimos tempos, foi o Finger Reader. Trata-se de um pequeno objecto, criado por um grupo de alunos do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) que consegue traduzir os textos escritos, dizendo-os em voz alta.

Hoje em dia, ler um jornal diário na versão impressa é uma tarefa quase impossível para um invisual. Ele é obrigado a aguardar pela versão em braille dessa publicação, que demora vários dias a chegar pelo correio. Quando recebe o jornal, muitas notícias perderam a sua actualidade. Com o Finger Reader, a leitura de documentos que ainda não se encontram no formato braille tornar-se-á mais célere.

Do México, mais concretamente, do Departamento de Mecatrónica, do Monterrey Institute of Technology (ITESM) chega-nos uma outra invenção, ainda em fase de protótipo e que tem como função guiar os invisuais em hospitais, centros comerciais e escolas. De acordo com informações da página www.tvciencia.pt, o dispositivo contém “um conjunto de instrumentos que medem a aceleração (acelerómetros), uma bússola electrónica que aponta a direcção correta e tecnologia que emite choques ao sistema vestibular, responsável pelo equilíbrio do corpo, e que avisa os utilizadores, quando têm de virar à direita ou à esquerda.”

Inspirada nos Google Glasses, os famosos óculos da Google, uma empresa israelita lançou, em 2013, os OrCam – óculos com câmara e áudio incorporado que pretendem ajudar os cegos a “ver melhor o mundo”. O aparelho que, para já, ainda só reconhece textos em inglês, está à venda por 2500 dólares no site da empresa.

Portugal também tem apostado neste domínio. De uma parceria entre o Departamento de Informática da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL), do Instituto Superior Técnico e da Universidade de Dundee, na Escócia, resultaram dois utensílios tecnológicos (B# e o Holibraille) que vão facilitar a utilização de smartphones pelas pessoas cegas:

O B# é um corrector ortográfico que, segundo Hugo Nicolau, membro da equipa de investigação, “tem em conta os símbolos do braille”, sendo bastante mais eficaz que os correctores já existentes. Já o Holibraille é uma caixa ou capa que poderá ser anexada ao smartphone e que conecta com o mesmo através de bluetooth. A caixa possui três pontos de ligação onde se apoiam os dedos usados na escrita de Braille e que vibram quando se escreve.

holibraille

Funcionamento do Hollibraille

Desde 2007, muito em virtude da Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, diversos países têm vindo a comprometer-se com a tomada de medidas que garantam a igualdade de oportunidades entre pessoas com e sem deficiência. Portugal ratificou esta convenção em 2009. O mais recente país a aderir foi a República do Congo, a 2 de Setembro deste ano.

A Convenção apela aos Estados Parte que facultem o acesso das pessoas com deficiência à mesma informação que se encontra disponível para público em geral, fomentando a criação de formatos e tecnologias acessíveis a estes indivíduos. Tendo em conta estas recomendações, não é de estranhar que nos últimos dois anos, tenhamos assistido a um boom na invenção de aplicações informáticas e aparelhos electrónicos destinados a invisuais.

Por outro lado, as grandes empresas estão cada vez mais atentas a este segmento de mercado, conscientes que investir nesta área é mais uma forma de obter lucro, ao mesmo tempo que asseguram o seu dever de responsabilidade social.

O hiato temporal que vai desde a invenção dos aparelhos, ao registo da patente, à comercialização e, finalmente, ao estabelecimento de um preço apelativo para o cidadão é elevado e a espera torna-se muitas vezes angustiante para quem anseia por uma solução rápida para os seus problemas. Contudo, e apesar de haver ainda muito para fazer neste domínio, poderá afirmar-se que o mundo está no bom caminho.

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