Seth MacFarlane incutiu uma parábola na sua primeira longa-metragem, um homem impedido de crescer, devido à cumplicidade com o seu urso de peluche, obviamente tudo isto elaborado numa comédia com os dignos traços do autor, o mesmo dos sucessos animados de Family Guy e American Dad.

Como tal, Ted, o filme de 2012, foi, sobretudo, um ensaio misto e dotado com alguma destreza intelectual, ao mesmo tempo que é minado por todo o “non sense” cómico e de um humor politicamente incorrecto. Infelizmente, MacFarlane não é um 100% rebelde, um “violador” das boas morais, sendo que,por detrás desta capa que tenta por vezes apresentar, ele acaba por demonstrar (inevitavelmente) a sua faceta como “bom vendedor” das fórmulas correctas. Um desses exemplos é a sua segunda longa, A Million Ways to Die in the West, que estreou 40 anos depois de Blazing Saddles (Balbúrdia no Oeste), de Mel Brooks, e revelou-se mais conservador que o seu antecessor.

Nesta nova aventura, Ted terá que provar juridicamente que é um ser humano e não uma propriedade.

Nesta nova aventura, Ted terá que provar juridicamente que é um ser humano e não uma propriedade.

Em Ted 2, a sua primeira sequela, o registo é novamente replicado, através de uma nova aventura entre o urso falante e mau comportado (com a voz do próprio MacFarlane) e um Mark Wahlberg preso à sua vontade de ser ele próprio. Um misto de emoções é o que encontramos aqui, tudo porque esta continuação consegue ser mais astuta que a respectiva prequela, e, nestes tempos em que o debate dos direitos das minorias é acima de tudo visto como assuntos mediáticos, Ted 2 faz algum sentido existir. No entanto, infelizmente, trata-se do menos divertido do duo, até porque o assunto alusivo é demasiado sério… Seth MacFarlane sabe disso perfeitamente, dotando-o com um número decrescente de gags e um receio crescente na aposta dos seus conteúdos.

O resumo é que acaba tudo por ser moralmente “pleaser“, intercalado por momentos de humor demasiado “ordinários” para serem considerados engenhosos, mas, enfim, é o efeito “sequelite” a revelar-se aqui (agora sem Mila Kunis, mas com Amanda Seyfried no mesmo esquema). Isso e a oculta adoração de MacFarlane ao clássico musical da Broadway, evidenciado nuns créditos iniciais argumentados como exposição da sofisticação do boneco animado Ted.

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Hugo Gomes
Jornalista freelancer e crítico de cinema registado na Online Film Critics Society, dos EUA. Começou o seu percurso ao escrever no blog "Cinematograficamente Falando", acabando por colaborar nos sites C7nema, Kerodicas e Repórter Sombra, e ainda na Nisimazine, a publicação oficial da NISI MASA - European Network of Young Cinema. Nesse âmbito ainda frequentou o workshop de crítica de cinema em San Sebastian, também cedido pela NISI Masa, e completou o curso livre de "Ensaio Audiovisual e a Crítica de Cinema como Prática Criativa" da Faculdade de Ciências Sociais e Humana das Universidade Nova de Lisboa. Foi um dos programadores da edição de 2015 do FEST: Festival de Novos Realizadores de Espinho, e actualmente cobre uma vasta gama de festivais, quer nacionais, quer internacionais (Cannes, San Sebastian).

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