
Trois Couleurs: Bleu (1993), realizado por Krzysztof Kieslowski, com Juliette Binoche como protagonista, apresenta-nos um drama fora do comum.
Uma primeira meia hora de sufoco, onde o espectador está submerso na dor, na compaixão, no sofrimento atroz que domina a narrativa. Azul, a cor da monotonia, que simboliza o infinito, encontra, em si mesma, a índole peculiar da realização cinematográfica.
Um filme de imagens, onde o som reflecte uma espécie de bater (artístico) cardíaco. Um filme de planos fechados, contraditórios, que ditam a sinfonia, as pausas, o ritmo.
A dor move a narrativa: num mar de desilusões, numa distopia real aos olhos da protagonista. Numa musicalidade sublime, a banda sonora encontra as pontas soltas de um enredo com poucos diálogos, mas que se fazem sentir.
Quando a vida nos tira tudo, onde encontrar forças para continuar a ser alguém? E não mergulhar na espiral decadente de mágoa. A apoteose poética da alma, no encontro com a escuridão, é o motor do guião.
Encontra no fecho da cortina a essência da sua criação. Junta as peças, finalmente, num cortar a respiração à alma, numa catarse de todos nós para com a vida – e a morte.
Musical, artístico, “pesado” – e, no entanto, tão «simples» –, é um filme que mostra que a partir do sofrimento, a arte nasce. E cresce. E ganha vida.